Luz da Escuridão - A Prateada Mordida do Passado

Freya estava deitada na cama, de camisola acinzentada, cobertores e colchoados negros. Os olhos acinzentados pesavam à medida que as ondas sonoras penetravam nos ouvidos e passavam ao cérebro da Lobisomem. Ela apertava os lençóis com sua mão esquerda não querendo acordar, por mais que os passos apressados ainda vinham em sua direção já a dessem a desanimadora notícia que era isso que ela teria de fazer em poucos segundos, então todo segundo que ela pudesse aproveitar em estado de sonolência ainda era um privilégio.

Ele entrava no quarto escuro, sem nem bater.

Mikhail escreveu:- Venha comigo, garota! Rápido, preciso te mostrar uma coisa!!

Freya internamente achou aquilo um ultraje. E se ela estivesse acordada e já se trocando? E se estivesse de alguma forma não apresentável? Ela apenas levantou vagarosa da cama, sem tirar os cobertores, os longos cabelos prateados todos descabelados, ela olhava para Mikhail com um misto de sonolência e repreensão e diz com uma voz grave e amassada devido ao sono:

- Hmm, tá bom, tá bom. Só me dá um minuto para que eu me arrume, tudo bem?

Mas a vontade de Freya era de diz:

"Meu Deus, não sabe bater não?"

Mas não se sentia no direito de falar isso, por mais que ela estivesse certa, afinal tudo aquilo era de Mikhail e devia muito à ele. Freya então rapidamente lavou o rosto, prendeu os cabelos pois não teria tempo de ficar os penteando. Colocou uma jaqueta feminina jeans, daquelas que não esquentava, e puxou a manga até os cotovelos, colocou uma camiseta preta regata por baixo, uma calça leggin preta e um all star preto e branco. Colocou seu espelho portátil no bolso, celular. Quando chegou do lado de fora com Mikhail e seu Chevy Impala, ela já perguntou:

- O que houve? porque toda essa pressa??

Ela já foi entrando no outro lado do carro sem perder muito tempo e colocando o cinto de segurança. Ele estava sério, muito sério mesmo...

Mikhail escreveu:- Aperte os cintos, e me escute com atenção. Tudo o que acontecer hoje, ficará entre nós, entendeu? Tenho você como uma filha pra mim, e descobri algo hoje que não quero esconder de você.

Freya arqueava a sobrancelha esquerda com estranheza por um tempo, ela começava a ficar assustada, aquilo não era natural, o que ele estava fazendo pra estar tão tenso assim?

- Mik, o que tá acontecendo? Você tá me assustando...

E estava mesmo, ele fazia mistério demais, alertas demais e respostas de menos. Freya começava a ficar ansiosa e apertava aos mãos. Independente da resposta, Freya acabaria não conseguindo falar nada com Mikhail que não fosse sobre o assunto, e se ele não falasse, ela não conseguiria fazer mais nada também, apenas sentindo sua mão suar, batendo os pés de forma sutil porém ritmada, olhando a janela vendo as árvores e as casas passarem. Ao menos ele não perdia tempo, corria para chegar logo e mostrar à Freya de uma vez o que ele queria.

Eles então paravam em frente a uma casa, uma casa de madeira simples e até bonita, mas que tinha um cheiro horrível e forte. Freya levou as mãos ao nariz, fez uma expressão de nojo e perguntou com uma voz que parecia que iria vomitar:

- Meu deus, que cheiro horrível é esse?

Era o cheiro da Wyrm, não sabia como podia exatamente cheirar aquilo, achava que só conseguia sentir a Wyrm aprendendo o Don que lhe permitisse sentir a Wyrm, mas era a primeira vez que "cheirava" ela.

Mikhail escreveu:- Vamos, Freya!

- O que?? Lá dentro? O que tem lá??

Freya então rapidamente olhou para baixo e viu pegadas de diferentes tamanhos. Freya tentava distinguir que tipo de pegadas eram, se eram do mesmo ser que aumentava e/ou diminuía de tamanho, se eram de criaturas distintas e se eram pegadas de animais (especificamente qual animal?) ou de pés humanos.

Mikhail escreveu:- Freya, preciso que seja forte agora! Atrás daquela porta, você descobrirá algo que mudará sua vida para sempre. Entre com os sentimentos blindados, pois o que você verá e ouvirá vão te afetar, mas confio em você para lidar com isso como uma verdadeira presa de prata.

Freya arregalou os olhos para Mikhail, olhou depois para a casa, o cheiro nojento vinha de lá, aquilo a fazia querer ir pra todo lugar menos aquela pequena cabana. Freya olhou para Mikhail novamente, ela não conseguia ficar parada, uma agitação tomava conta do seu corpo, e ela ainda mantinha o braço e a mão erguida bloqueando sem tocar o próprio rosto, o caminho do mal cheiro para suas narinas.

Mikhail escreveu:- Está pronta??

Freya olhou novamente para a cabana, depois para Mikhail, queria dizer "não" mas não podia dizer aquilo, teria que mentir, mas mentir também não era exatamente algo que ela apreciava muito.

- Acho que tenho que estar, então... Sim?

Ela perguntava para ele como se ela quisesse que ele confirmasse que essa devia ser a resposta certa. Independente do que diria, Freya agora se aproximava da porta, tirava a mão da frente da boca, ela tentava captar tudo, se conseguisse olhar pela janela antes de entrar, ela olharia, e então entraria dentro da casa, já preparando-se para o que iria ver, com a mão na maçaneta devagar e com cuidado, preparando sua mão para erguer suas garras escondidas, caso precisasse, mas não achava que iria precisar, se fosse um perigo físico, Mikhail a diria para se preparar para lutar. Não é?

Freya não conseguia ver nada pelas janelas daquele lugar, o que tornava tudo uma incognita muito maior. Estavam protegidos, provavelmente porque o que veria ali não deveria ser visto por ninguém. Será? A garota engolia a seco reunindo coragem, mais uma vez, não acreditava que Mikhail a exporia em perigo sem avisar à ela de que estava em perigo, sendo assim preferiu confiar nele. Nesses tempos sombrios em que sua mente era mais escura que a noite, ele estava sendo como um pai para ela.

Ela então abria a maçaneta e quando abriu apenas uma leve fresta, Freya quase engasgou com o cheiro horrível de carniça que sentiu. Ela tossiu, levou a mão à boca e protegeu o nariz do mal cheiro. Seus olhos se estreitavam querendo fechar, como se o odor fétido no ar ardesse seus olhos sensíveis. Por um instante, Freya pensou que fosse vomitar, sentiu o refluxo no estômago subir e seu corpo se estremeceu, seu estômago se contraiu, mas ela segurou o vômito que logo passaria, era só se acostumar um pouco, mas o cheiro já dava ela à crer que havia mesmo coisas podres naquele ambiente. Ela parou um pouco, virou seu rosto da direção da fresta ainda não aberta para respirar um pouco de ar puro antes. Estava com os olhos fechados tentando não imaginar o que veria lá dentro. Sua imaginação tornava a visão pior. Ela então deu uma ultima inspirada com o rosto virado, contou até três e abriu o restante da porta.

Viu logo paredes cheia de sangue, assim como o chão da cozinha... Seco... Por isso o cheiro horrível... Havia morte ali, deveria haver cadáveres em decomposição em algum lugar que ainda não enxergava. Ainda tinha suas mãos levadas ao nariz para não sentir tanto aquele odor quase insuportável e então ela olhou para aquela cabeça de criança mordida dentro da pia, seus olhos se arregalaram com o choque da brutalidade e da monstruosidade daquele ambiente. Ela recuou para trás alguns passos e sussurrou:

- Meu deus...

Mikhail escreveu: Desculpe... diz Mikhail olhando para aquela cabeça humana de criança, mordida dentro da pia. - Não tive tempo de limpar o ambiente, eu precisava te trazer com urgênc...

Antes que Mikhail pudesse terminar a frase eles ouviram um som estranho de batidas, como se fosse alguém preso, vozes suprimidas... Havia uma trilha de sangue da cozinha até outro cômodo. Freya olhou para Mikhail com uma expressão receosa, em seu olhar, Freya conseguia perguntar para Mikhail se ele sabia daquela pessoa presa ali de alguma forma, ele assentiu, e assim Freya assentiu para Mikhail de volta e ela então começava a andar até o corredor, tomando cuidado para não pisar no sangue mesmo que seco e observando todo o ambiente à sua voz com sua visão privilegiada e de imediato ela pensara... Poderia se tratar de um vampiro ali? Tudo fechado como se fosse para evitar a entrada do sol, tanto sangue... Os Sangue-sugas podiam ter algo haver com aquilo? Freya foi a fim de descobrir quem estava preso tomando um leve cuidado ao se aproximar mais da pessoa "sequestrada".

Tudo aquilo era tenebroso, a visão era uma carnificina que imundava sua mente e suas narinas e manchava a alma de qualquer um que estivesse presente com sangue e maldade. Ouvir aqueles ruídos eram como estar ouvindo pequenos sons de uma harpa desafinada e maldita que dava os primeiros acordes do terrível e do horrendo. Freya segurou-se para não vomitar, tanto com a pressão do ambiente quanto o cheiro que ele emanava, ela não era de ferro, na verdade faltava muito para que Freya ainda chegasse a metade de ser de ferro.

Ela via o casal ensanguentado na cama e não conseguiu esconder a face de horror, ela virou o rosto, mas alguns segundos depois ela tentou ser forte e tentou manter a postura engolindo a seco e tentando ficar impassível em seu rosto voltando a olhar para a cena de gore sem muito sucesso, mas ela tentava, suas mãos tremiam e suavam, a tentação de tapar o nariz com o cheiro da carniça era forte mas ela tentava não se deixar abalar. Ela olhava e lutava contra si mesma para ser um pouco mais fria e poder encarar aquilo com seriedade de uma adulta.

Mikhail escreveu:- Freya, estava andando por nossas terras para refletir. Quando detectei dois dançarinos da espiral sondando nosso território de longe. Felizmente consegui capturar este monstro.(diz apontando o dedo pra ele) Mas, o outro que estava mais distante, conseguiu fugir.

Quando Freya viu o monstro que a fitava, ela deu um passo para trás impressionada com ele, ela acabou encostando em Mikhail que estava logo atrás dela e tão logo "tomabara" nele, acabou avançando o passo novamente para onde estava. Ela via que o bicho estava preso, por... uma corda? Freya achou estranho uma corda segurar um monstro como esse, estava atenta a isso, não sabia se ele realmente estava preso, a não ser que Mikhail tivesse usado algum dom ou ritual para conseguir que uma mera corda o segurasse, talvez fosse até um fetiche.

Mikhail escreveu:- Eu pretendia apenas descobrir o que eles faziam por esses lados, mas acabei descobrindo mais do que o esperado utilizando meus dons para arrancar a verdade dele, principalmente sobre seu passado. Não foi você quem assassinou à Priscilla, foi ele. Você se transformou para protegê-la quando o viu, mediante a presença ameaçadora, foi instintivo, mas você não foi párea pra ele, que conseguiu nocaute-la e matar Priscilla, forjando a morte dela colocando um pedaço da carne goela abaixo em você, como o ragabash carniceiro que é, pra te culp...

Dançarino Impuro escreveu:- HAHAHAHAHAHAHAA BLA, BLA, BLAAA,

Antes que Mikhail pudesse terminar o monstro debochava ousadamente, esquecendo da posição dele, ou não se importando, Mikhail o calava mas isso não era o suficiente para conter o misto de emoções negativas que rondavam suas entranhas agora. Ela estava em choque com a revelação, pálida como se estivesse anêmica, boquiaberta e seu corpo tremia da cabeça aos pés.

Mikhail escreveu:- Não há mais o que fazer, a vida dele põe em risco a nossa seita. Só queria que soubesse o que aconteceu, você só sobreviveu porque a presença dos garous assustou ele que estava sozinho, e fugiu te deixando com vida antes de avistarmos ele. Todos esses anos achavámos mesmo que assim como muitos de nós, você havia multilado sua parceira, mas sua primeira transformação foi tentando salva-la, a presença dele acordou a fera em você. Eu iria mata-lo assim que o encontrei, mas talvez você queira ter esse prazer pra honrar a memória de Priscilla.

Freya estava em choque, imóvel como uma estátua de mármore, ficou assim por um tempo. Então sua expressão ficou impassível, séria e calma, como se nada daquilo estivesse tendo o menor sentido ou a menor importância, uma face totalmente blasé, ela olhava pro Dançarino sem nenhuma cara a se fazer, então ela começou com calma e silêncio até um dos cadáveres, enfiou a mão dentro das entranhas aberta de um deles, puxou visceras e carne podre e logo enfiou na própria boca e imediatamente cuspiu.

- O QUE MAIS VOCÊ QUER PRA FAZER DE UMA VEZ? Não, eu não posso fazer isso! Não é assim, tem que haver justiça, não-

Freya logo parou de falar e bateu a própria cabeça na parede levando a mão à testa zonza.

- JUSTIÇA???? JUSTIÇA É ARRANCAR OS MEMBROS DELE E OBRIGÁ-LO A SE COMER PEDAÇO POR PEDAÇO!!! SUA FRACA MALDITA, EU SEMPRE SOUBE QUE A CULPA É SUA, E AGORA EU TENHO CERTEZA DISSO!!! Não, para!!! Ele tem que ser levado pra nação, ele tem que testemunhar!!

Apenas o lado esquerdo do olho derramava lágrimas.

- MIKHAIL É A TESTEMUNHA, ELE É UM ANCIÃO A PALAVRA DELE JÁ VÁLIDA O SUFICIENTE!!! Mas não cabe a mim decidir a sentença dele, eu não saberia... VOCÊ NÃO SABERIA PORQUE VOCÊ NÃO TEM O QUE É NECESSÁRIO, EU MESMA VOU FAZER ISSO!!!

Freya então rosnou poderosamente e avançou em direção ao Espiral negra com garras de uma mão exposta (dom garras escondidas) mas logo quando ia acertar o fucinho do monstro, a outra mão de Freya parou a sua própria.

- Ele está indefeso, está rendido, cabe a nação decidir o que fazer com ele, eu sou uma Cliath não tenho tal poder ainda! E NUNCA VAI TER SE NÃO MOSTRAR QUE SABE TOMAR DECISÕES

Freya então logo se jogava para o lado se jogando contra a parede violentamente, fazendo um estrondo e logo se levantando com as duas mãos em garras e avançando no Dançarino pegando sua nuca e puxando e apertando para baixo (movimento que se faz com os cães quando se quer impedir que ele te morda)e logo ela mergulha a outra mão com garras dentro da boca do monstro o rasgando por dentro e puxando sua lingua.

- PARA VALKYRIA NÃO É O CERTO!!!!!

Mas ela continuava puxando ao mesmo tempo em que começava a se transformar em glabro com a mão em garras dentro da boca do monstro. A face de Valkyria era sombria, repleta de ódio e prazer.