Vampiro e Lobisomem

O tema desse tópico não é uma comparação entre as criaturas em si mesmas, mas do seu papel no Mundo das Trevas enquanto espécies sociais.

Primeiro, é preciso admitir que Lobisomem: o Apocalipse, assim como Mago: a Ascensão, sempre foi uma linha secundária da White Wolf, cujo carro-chefe sempre foi Vampiro: a Máscara. Isso se evidenciou ainda mais pela resposta do público em vendas de livros e engajamento da fanbase; Vampiro sempre foi muito mais proeminente do que seus irmãos lobisomens e magos.

A primeira edição do Mundo das Trevas era centrada nos vampiros, e as outras criaturas eram abordadas do ponto de vista vampírico. Foi apenas na 2ª edição que a cultura animista-tribal dos garous foi melhor delineada. Na 3ª edição, houve refinamento na regras e um avanço na história individual de Lobisomem, junto com um esforço sutil para afastar os garous das outras criaturas sobrenaturais, num claro desaconselhamento contra crossovers. A edição de 20 anos de Lobisomem foi a mais equilibrada e abrangente, feita com esmero e cuidado, respeitando a fanbase e o legado do jogo. Neste momento em que escrevo, Werewolf 5 é apenas uma promessa vaga dos novos editores.

Sempre foi dito que no Mundo das Trevas há mais vampiros que lobisomens. Enquanto os garous são uma raça em vias de extinção, os vampiros são prolíficos, o crescimento de seus números sendo limitado apenas pelas regras de suas organizações. A Camarilla tem um número absurdamente específico para isso: para cada 10 mil mortais, pode haver apenas 1 vampiro. Com a humanidade beirando os 8 bilhões de seres, teríamos 800 mil vampiros, mas a conta não é simples assim: pouco menos da metade da população mundial vive ainda em áreas rurais que não são tão boas para os vampiros quanto as cidades. E mesmo as cidades com mais de 10 mil habitantes são bem menos numerosas do que se poderia imaginar. Usando a região metropolitana de São Paulo para exemplificar: a Grande SP tem 21 milhões de habitantes, o que possibilitaria que existissem 2100 vampiros por aqui. Achou muito ou pouco?

Nunca vi uma proporção de vampiros para lobisomens em nenhum livro oficial, mas até mesmo 1/10 parece-me um tanto elevado. Garous vivem em áreas de natureza, mas não muito longe dos humanos, ou não teriam com quem se reproduzir. Supondo que esse 1/10 do número de vampiros fosse o número de Parentes no mundo, os lobisomens seriam entre 1/3 e 1/10 desse número, que é a probabilidade de lobisomens transmitirem o gene garou forte o suficiente para gerar outro garou. Então, se houvessem 2100 vampiros na Grande SP, os Parentes dos garous seriam 210, e os lobisomens de verdade seriam algo entre 21 e 63.

Claro, tudo isso são elucubrações matemáticas, mas o que é certo é que os vampiros são mais numerosos que os lobisomens. Embora hajam garous que caçam bem na selva urbana, e também existam vampiros estúpidos que caem facilmente para um único lobisomem, a maioria dos cainitas é muito mais preparada para usar de manipulação direta, buchas de canhão e poderio econômico contra qualquer lobisomem.

No mano-a-mano, um lobisomem mediano pode vencer um vampiro mediano até com facilidade. Mas a maioria dos vampiros não seria tão idiota de sair na mão contra um crinos com o dobro do tamanho dele. Confiando em armamento superior, manobras de distração e superioridade numérica, os vampiros têm chances grandes de surpreender qualquer matilha garou.

No campo da estratégia, outra vantagem dos vampiros está no tempo: um garou que não morra em batalha viverá em média 100 anos, enquanto os vampiros simplesmente não envelhecem. Diante de um inimigo garou superior, um vampiro poderia apenas se sentar durante um século e esperar o tempo passar por cima de seu antagonista. Porém, mesmo a curto prazo, os garous podem encontrar problemas, pois um vampiro incapaz de atacar diretamente o lobisomem pode mirar em seus parentes, se conseguir descobri-los (e descobrir a identidade de um garou é cada vez mais fácil hoje em dia...).

Sintetizando a minha ideia, os lobisomens estão em enorme desvantagem contra os vampiros. Agir nas cidades deles é caçar numa selva onde você é tanto predador quanto presa. É preciso ter cautela!


Digam aí o que acham disso!

Cadê a mensagem da Lua? Apagou?

Eu já ia responder que qualquer polêmica vale, porque se fosse um consenso não haveria nada para discutir.

Comercialmente, não faz sentido separar o Mundo das Trevas, e os editores não farão isso. Vampiro é o carro chefe do cenário, porta de entrada para um grande público que pode se interessar pelas linhas secundárias, garantindo a oxigenação de todos os produtos do cenário.

Em termos narrativos, lobisomens e demais metamorfos são plenos de possibilidades, não apenas em temas como ambientações. A cosmologia de Lobisomem é a mais rica e detalhada do Mundo das Trevas (o que renderia um outro tópico muito interessante...), e cumpre bem a difícil função de conectar todas as diferentes perspectivas das criaturas do World of Darkness.

Eu não sou completamente avesso a crossovers, mas o grande problema neles é a diferença entre as regras de cada uma delas. A fase Storytelling tentou unificar as regras de um modo até elegante, mas a falta de carisma dos novos cenários não permitiram que alcançasse o sucesso do clássico.

Não vou comentar muito sobre o Brasil em Fúria para não dar muitos spoilers, mas o Culto da Fome não é bem zumbis. Embora zumbis estejam em alta agora, eles não são os únicos mortos-vivos que existem. Os fantasmas de Wraith eram bem interessantes, mas não prosperaram.

Mas eu acredito que a chave para crossovers darem.certo seja justamente fazer justamente o que os editores aconselham: escolher qual jogo você está jogando e colocar as outras criaturas como coadjuvantes ou antagonistas. Vampiros dão grandes vilões, magia também, fantasmas são bons informantes e as fadas... Bom, as fadas são fofinhas!

Eu apaguei porque eram reflexões que tinham mais a ver com lobisomens e vampiros na cultura pop do que propriamente com o Mundo das Trevas.

Não tenho muito interesse no outros livros do MdT, nem em rpg em geral, por isso eu estava desvirtuando o tópico, acho.

Mas como você respondeu, vamos lá...

Para mim, a Turma do Penadinho inteira já está bem saturada: vampiros, lobisomens, bruxas, magos etc.

Os mortos-vivos (de todos os tipos) são a bola da vez, ainda tem coisas interessantes sendo feitas com eles.

O Culto da Fome eu gostei muito. Acho que eles criaram um arquétipo bem bacana para falar de algumas chagas brasileiras que, se abordadas diretamente, iriam gerar problemas com os jogadores. Deu vontade de escrever. Talvez no meu off game. Aliás, de um modo geral, eu gostei do Brasil em Fúria.

Ainda com relação aos mortos, Wraith é um cenário ótimo. Meu sonho era narrar uma história nele.

A cosmologia de Lobisomem é a mais rica e detalhada do Mundo das Trevas

Concordo completamente. LoA não é só um jogo, é boa literatura. Nunca vi nada sobre o tema dos lobisomens que fosse tão bom. Levaram o mito a outro patamar, pena que restrito ao rpg. Tem alguns contos sobre seres híbridos que são tremendos, mas já no campo da ficção científica, não da fantasia. E nem de longe tão detalhados.

LoA e Wraith são menos populares? Nenhuma surpresa, né? Tem uma lei universal que diz que o melhor de cada coisa nunca agrada à maioria...

Numa discussão abrangente, com certeza a gente tangência temas um pouco fora do tópico, mas isso faz parte, e dá margem para debates interessantes.

Do ponto de vista narrativo, eu acho que mesmo com a profusão de histórias sobre os monstros clássicos, sempre há espaço para mais. Alguns professores de literatura dizem que não se escrevem histórias originais desde o teatro grego clássico, mas eu acho isso uma bobagem acadêmica. Se for uma boa história, eu não me importo se for sobre lobisomens, vampiros ou humanos.

Eu narrei Wraith apenas duas vezes, é um cenário muito interessante, mesmo que um tanto deprimente às vezes. Lobisomem é meu cenário favorito de todos (empatado com Ravenloft), mas Mago também é legal. Infelizmente, todos os cenários da White Wolf têm uma certa tendência a decair nas disputas políticas, concentrando-se nas intrigas entre clãs/tribos/tradições/whatever.

Por isso eu considero que é bom conhecer muitos cenários, mas segurar a mão nos crossovers.

A White Wolf ela criou vários universos independentes e interligados ao mesmo tempo dependendo de cada um, certa vez um antigo mestre com quem joguei disse que World of Darkness só tem uma certeza que é a não certeza, justamente por causa dos crossovers.

Sempre achei que lobisomem, mago e Vampiro fosse os títulos principais por causa de outro jogador que conheci décadas atrás, ele disse que os três seriam a representação da Wyld (lobisomens), Weaver(mago) e Wyrm (vampiro) mas hoje vejo que não é assim, Garous em vampiro são os parentes dos Gangrel pois ambos têm o mesmo antidiluvianos mas em lobisomem Apocalipse essa visão não existe. lobisomem foi abordado de um jeito que nunca imaginei antes e me fez pensar sobre preservação da natureza e como o mundo precisa respeita - la.

Lobisomens tem uma forte tendência ao xamanismo enquanto vampiro faz você pensar em cristianismo e nesse ponto para mim pelo menos vampiro é mais atraente e o que eu gosto mas nunca tive chance foi de jogar de mortal Caçador (até hoje tenho vontade de jogar Caçadores caçados e Hunter de Reckoning que por sinal foi abordado em uma Dragão Brasil antiga).

Vampiro poderia ser mais rico porém os criadores de games em geral ignoram países e organizações do terceiro mundo, o "centro do universo" muitas vezes é Estados Unidos e Europa sendo raro outros cantos.

Gosto de saber que cada cenário da White Wolf é independente mas pode ser plausível um pequeno crossover porém há títulos que não me interessa jogar nunca como Demônios a Queda, Storyteller tem tudo menos anjos do céu, o mais próximo disso que vi é em vampiro no livro de nod e no livro capadocius).

Acho que um ponto que afasta os jogadores de Vampiros para lobisomens está nos pontos de vida que são muito poucos para enfrentar desafios tão elevados mas sei que o mesmo se passa em outros jogos da franquia.

Gostaria de ver lobisomens em uma campanha de Vampiros como sendo Garous "basicos" digamos assim (sem dons, tribos, diferentes raças e incapaz de reprodução entre eles mesmos ou seja, que eles procriasse entre eles mesmos e etc) mas gostei da introdução da Umbra, me faz lembrar Legacy of kain.

Mas os Lobisomens em desvantagens numérica podem até ser mas ainda sim eles são predadores naturais dos Vampiros pois eles tem dons e rituais, mas fazer um crossover mais íntimo de um título para o outro não é uma idéia confortável sempre e melhor que cada franquia tenha sua própria cosmo visão, e Vampiros assim como lobisomens eles muitas vezes são inimigos deles mesmo com a diferença que garou não comete diablerie (já vampiro não pensa muito em praticar canibalismo físico e espiritual).

Mas o mais confuso de um modo geral é como Vampiros podem se passar por humanos mesmo com humanidade alta com suas fraquezas mais básicas que os denunciam como Vampiros? Nem todo cainita tem poderes mentais e isso obriga o jogador pensar bem em como usar da máscara, talvez esse seja o atrativo, resgatar a humanidade perdida mas os Vampiros em geral querem mais poder do que humanidade, os poderes das trevas te puxam para um mundo ainda mais dark pois também é um "mecanismo de defesa".

Dizem que no 5 edição os anciãos são raros por causa da segunda inquisição, isso é verdade?

Acho que fugi um pouco do assunto, desculpe pessoal.

E pra finalizar os Vampiros tem uma história rica e é relativamente "fácil" criar histórias. Em lobisomem parece que os Vampiros são bestas irracionais como são tratados pelo que pude entender, impossível de perdoar e ajuda - los a atingir o perdão.