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Pilar Lobo - O Ovo da Serpente

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Mensagem por Alexyus Qui Out 01, 2020 3:11 pm

O OVO DA SERPENTE


Pilar Lobo - O Ovo da Serpente O_ovo_10


Pilar Lobo tinha viajado mais de 9 horas de avião  desde sua casa na Espanha até a cidade de São Paulo.

O pai de Pilar, o poderoso theurge senhor das sombras _ _ _ _, tinha pedido a ela para ir até a América do Sul para checar uma situação que se arrastava havia décadas na seita mais poderosa do Brasil: a seita Serpente do Brejo, que protegia o popularmente chamado Caern USP, era comandada pelos Andarilhos do Asfalto desde o século XX, a despeito dos esforços dos Senhores das Sombras e de sua aliança com os Garras Vermelhas locais.

O ancião local dos Senhores das sombras, Dante Palmino, um ragabash hominídeo chamado Silêncio do Trovão, estava na seita há quase trinta anos, mas não prestava informações ao restante da tribo, que via com preocupação o desempenho dele. Foram esses receios que fizeram com que seu pai a enviasse para investigar a situação.

Aproveitando que o caern ficava no campus da maior universidade da América Latina (esses andarilhos brasileiros eram malucos mesmo), a tribo arranjou para que Pilar fizesse um curso de extensão em arqueologia zoológica pela USP. A duração variável do curso, que poderia durar seis meses ou até dois anos, era tanto um trunfo quanto um risco para a missão de Pilar, já que por um lado a concedia bastante tempo para sua tarefa, mas condicionava sua permanência aos caprichos dos garous locais, que poderiam atuar para mandá-la embora de repente.

Ao desembarcar no aeroporto de Guarulhos, Pilar logo avistou no imenso saguão um cartaz toscamente escrito com seu nome.

Placa:

A mulher que a segurava era uma dama impressionante, vestida de preto com roupas elegantes, e um olhar duro e sagaz. 

Spoiler:

Assim que Pilar sinalizou sua identidade, a mulher falou com uma voz gélida, um leve sotaque latino em seu espanhol:

- Você é Pilar Lobo? Posso ver seus documentos?

Foi só após checar seu passaporte e conferir sua foto que a mulher dignou-se a apresentar-se:

- Meu nome é Nayara García. Acompanha-me.

De um jeito prático e não muito acolhedor, Nayara ajudou Pilar a carregar suas malas até o estacionamento, onde um sedã preto de uma montadora japonesa apitou quando ela desarmou seu alarme. García guardou a bagagem de Pilar no porta-malas e deixou que ela se acomodasse no banco do passageiro antes de ligar o carro e sair suavemente da vaga. Após ganhar a rodovia, ela voltou a falar:

- Entre o nosso povo, meu nome é Mensageira do Trovão. Sou uma galliard fostern e fui designada para supervisionar você durante sua estadia no território de minha seita. Vou monitorar todas as suas ações, e espero que você saiba se comportar por aqui. Alguma pergunta?

O trajeto do aeroporto até o campus levaria quase uma hora e meia. Nayara não se esforçaria para puxar conversa, mas poderia responder perguntas ... se lhe conviesse.

Ao se aproximarem da Cidade Universitária, Nayara dispôs-se a dar alguns detalhes práticos:

Mapa da Cidade Universitária:

- Como aluna de um curso de extensão, você pode ficar no CRUSP, o Conjunto Residencial da USP. O CRUSP possui atualmente 8 prédios identificados como Bloco A1, Bloco A, Bloco B, Bloco C, Bloco D, Bloco F, Bloco G. Os blocos C e G são destinados aos alunos de pós graduação, os demais são destinados aos alunos da graduação. Cada prédio possui 6 andares, cada andar 11 apartamentos, cada apartamento 3 quartos. A estrutura do bloco A1 é diferente porque ele foi construído ao longo dos últimos 15 anos: cada um de seus apartamentos têm 6 quartos. Você vai ficar no Bloco G, sexto andar, apartamento 66. No terreno onde se localiza o CRUSP tem um bandejão central (local onde são oferecidas refeições), um cinema chamado Cinusp, um anfiteatro e o COSEAS-USP. 


CRUSP:

Ela manobrou em direção ao estacionamento dos dormitórios e depois de parar o carro, olhou de maneira aguda para Pilar, dizendo com ênfase:

- Você pode se virar com a burocracia normal do campus, mas se houver alguma questão verdadeiramente importante você pode recorrer a mim e eu vou tentar mexer uns pauzinhos pra te ajudar. Embora eu exija que você se comporte, é melhor não se meter com os garous da seita sem a minha presença, e nem espere ser apresentada formalmente aos membros da seita. Entendeu bem?
   


Última edição por Alexyus em Ter Out 06, 2020 7:03 pm, editado 1 vez(es)
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Mensagem por Lua Sex Out 02, 2020 12:02 am

Ao desembarcar no aeroporto de Guarulhos, Pilar logo avistou no imenso saguão um cartaz toscamente escrito com seu nome.

A mulher que a segurava era uma dama impressionante, vestida de preto com roupas elegantes, e um olhar duro e sagaz.

(...)

- Meu nome é Nayara García. Acompanha-me.


Pilar comparou a grande preocupação de mulher com a própria aparência em contraste com a pouca atenção dada ao detalhe que a ela não se referia, a placa. Egocêntrica, concluiu.

Seguiu-a mansamente até o carro.


De um jeito prático e não muito acolhedor, Nayara ajudou Pilar a carregar suas malas até o estacionamento, onde um sedã preto de uma montadora japonesa apitou quando ela desarmou seu alarme. García guardou a bagagem de Pilar no porta-malas e deixou que ela se acomodasse no banco do passageiro antes de ligar o carro e sair suavemente da vaga. Após ganhar a rodovia, ela voltou a falar:

- Entre o nosso povo, meu nome é Mensageira do Trovão. Sou uma galliard fostern e fui designada para supervisionar você durante sua estadia no território de minha seita. Vou monitorar todas as suas ações, e espero que você saiba se comportar por aqui. Alguma pergunta?


— Sim. O que vocês consideram "comportar-se bem". — respondeu Pilar em português.

Observou Nayara. Ali estava o que o pai de Pilar costumava chamar de "síndrome do pequeno poder": uma garou jovem, de posto baixo, tentando mostrar à parente estrangeira quem é que mandava. Pilar não se impressionou nada, era filha de um ancião importante e estava acostumada a lidar com garous de postos mais altos que o de Nayara, mas evitou demonstrar.

Ouviu a resposta.

Estava claro, pelo nome garou, que Nayara era uma senhora das sombras, mas Pilar quis agora fazer uma pergunta mais boba e pessoal para quebrar um pouco gelo e testar o terreno.

— E qual é a tua tribo, Nayara? — disse em voz branda.


O trajeto do aeroporto até o campus levaria quase uma hora e meia. Nayara não se esforçaria para puxar conversa, mas poderia responder perguntas ... se lhe conviesse.


Pilar tampouco falou, concentrou-se em ver o caminho, que lhe pareceu muito feio. Estava ansiosa por chegar em São Paulo. Embora vivesse na Europa, Pilar tinha nascido à beira do Douro, uma região de histórias grandiosas e cidades pequenas. Já León, onde estudava, não chegava a 125.000 mil habitantes. Mesmo a região metropolitana de Madrid estava bem longe de comparar-se em tamanho à gigante sul-americana.

Perfeita para ir de copas, pensou, tentando ocultar um sorriso.

O CRUSP era enorme. Pilar anotou o endereço do seu apartamento, muito cheio de "6". Felizmente ela não era supersticiosa.


Ela manobrou em direção ao estacionamento dos dormitórios e depois de parar o carro, olhou de maneira aguda para Pilar, dizendo com ênfase:

- Você pode se virar com a burocracia normal do campus, mas se houver alguma questão verdadeiramente importante você pode recorrer a mim e eu vou tentar mexer uns pauzinhos pra te ajudar


— E como eu te encontro? Tens un número de telemov... de celular para eu te chamar?


Embora eu exija que você se comporte, é melhor não se meter com os garous da seita sem a minha presença, e nem espere ser apresentada formalmente aos membros da seita. Entendeu bem?


— Sim. Mas como eu faço se algum garou por si mesmo se aproximar? — respondeu Pilar com voz neutra, mas sem vontade nenhuma de obedecer o que Nayara provavelmente diria.
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Mensagem por Alexyus Ter Out 06, 2020 7:21 pm

— Sim. O que vocês consideram "comportar-se bem". — respondeu Pilar em português.

- Nada de baladas, bebedeiras ou festanças. Faça seu curso, tire boas notas, não tumultue o ambiente do campus. Não meta o nariz onde não é chamada. E sob hipótese nenhuma contrarie qualquer garou da seita.

— E qual é a tua tribo, Nayara? — disse em voz branda.

A pergunta pareceu quase surpreender Nayara, e ela levou pouco mais de um momento para responder, fingindo naturalidade na voz:

- Obviamente, sou uma Senhora das Sombras. Não deixaríamos você nas mãos dos Andarilhos.

— E como eu te encontro? Tens un número de telemov... de celular para eu te chamar?

Nayara pegou a bolsa que estava no compartimento do lado dela da porta, abriu e tirou um cartão, estendendo-o para Pilar.

Era um cartão simples, apenas com o nome de Nayara e um número de celular de São Paulo.

- Isso é para casos de verdadeira necessidade. Se por algum motivo eu não puder atender, deixe recado. Outros garous da nossa tribo monitoram essas comunicações e podem te responder no meu lugar.

— Sim. Mas como eu faço se algum garou por si mesmo se aproximar? — respondeu Pilar com voz neutra, mas sem vontade nenhuma de obedecer o que Nayara provavelmente diria.

A paciência da garou pareceu prestes a ceder, mas com um pequeno suspiro quase imperceptível, Nayara se pôs a explicar:

- Se algum garou se aproximar de você, não se comprometa! Não os contrarie mas tampouco os ajude. Afaste-se dele assim que possível. E me contacte o mais breve que puder, para que eu possa te orientar.

Nayara tinha discretamente destrancado as portas do carro em algum momento que passou despercebido por Pilar. Com a voz ainda bastante neutra, ela indagou:

- Mais alguma dúvida?
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Mensagem por Lua Ter Out 06, 2020 7:42 pm

Pilar adicionou o número de Nayara em seu celular, tendo o cuidado de memorizá-lo também.

- Mais alguma dúvida?


— Não — respondeu com suavidade. Por dentro estava pensando em como faria para driblar aquelas regras todas e cumprir sua missão.

Ia descer do carro quando percebeu que havia se esquecido de algo.

— E os parentes? — perguntou — Deveis ter parentes no campus. Vou estar aqui por quase dois anos, impossível não me deparar com algum. Haverá problemas se eu conversar com eles?

***

Se Nayara não tivesse mais nada a dizer, Pilar iria se despedir com gentileza, pegar as malas e caminhar até o apartamento que lhe designaram.
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Mensagem por Alexyus Sex Out 09, 2020 12:35 pm

Pilar escreveu:— E os parentes? — perguntou — Deveis ter parentes no campus. Vou estar aqui por quase dois anos, impossível não me deparar com algum. Haverá problemas se eu conversar com eles?

Nayara respondeu de pronto:


- Não. Todos os Parentes do campus são bem orientados pela seita, não haverá nenhum problema se falar com eles. Mas mantenha o Véu, nada de falar por aí sobre o nosso povo.

Sem mais o que dizer, Pilar saiu do carro, apanhou suas malas no bagageiro (sem nenhuma ajuda de Nayara, que sequer desceu do carro) e entrou no corredor de prédios do CRUSP.

Corredor CRUSP:

Foi só quando já estava no corredor que ela ouviu o carro afastar-se.

Os corredores davam uma sensação de amplitude limitada por árvores, e a cada trecho havia a entrada térrea de cada bloco. Alojada no Bloco G, Pilar teve que passar por todos os outros antes de chegar no seu. Na entrada do bloco, as pessoas transitavam livremente, mas havia uma discreta portaria no canto. O porteiro , cujo crachá dizia simplesmente Valmir, atendeu-a, pediu-lhe o documento para checar sua autoridade,  mas parecia que já a estava esperando.

Porteiro Valmir:

- Ah, sim Pilar Lobo. Aqui está seu crachá. O livro de regras do CRUSP. Cada apartamento só tem uma chave, mas você pode solicitar uma cópia mais tarde no bloco A. Você tem duas companheiras de quarto, Lorena e Ingrid Esteves. Pode subir, e seja bem-vinda, señorita Lobo!

A imitação de espanhol dele era bem ruim. Havia a opção de escadarias e e a do elevador para chegar ao 6° andar, e ele deixou que Pilar escolhesse a que preferisse. Outros habitantes do complexo entravam e saíam, sem serem incomodados, tudo muito informal.

No último apartamento do último andar do último bloco, Pilar achou o lugar reservado a ela.

Quem abriu a porta foi uma garota negra e sorridente.

Lorena Bressan:

- Você é a Pilar?  Seja bem-vinda, meu nome é Lorena! Entre, deixa eu te ajudar com essas malas.

A sala de estudos/cozinha/espaço coletivo era um pouco pequeno, mas suficiente, e tinha três portas para os quartos, além de uma passagem ao lado para o banheiro.

Uma moça de pele branca contrastando com os cabelos muito negros apareceu na porta de um dos quartos, e Lorena a apresentou:

- Essa é a Ingrid. Ingrid, essa é a Pilar.

Ingrid Esteves:

- Ah, oi, muito prazer. Precisa de ajuda pra se instalar?



OFF: Imagens de Referência
Spoiler:


Última edição por Alexyus em Dom Out 11, 2020 10:20 pm, editado 1 vez(es)
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Mensagem por Lua Sáb Out 10, 2020 12:46 am

- Ah, sim Pilar Lobo. Aqui está seu crachá. O livro de regras do CRUSP. Cada apartamento só tem uma chave, mas você pode solicitar uma cópia mais tarde no bloco A. Você tem duas companheiras de quarto, Lorena e Ingrid Esteves. Pode subir, e seja bem-vinda, señorita Lobo!

A imitação de espanhol dele era bem ruim.


— Obrigada, senhor Valmir — disse Pilar com seu melhor sorriso, repetindo o nome dele para não esquecer. Porteiros podem ser bem úteis.

Como ela estava com malas, preferiu ir de elevador.


Quem abriu a porta foi uma garota negra e sorridente.

- Você é a Pilar?  Seja bem-vinda, meu nome é Lorena! Entre, deixa eu te ajudar com essas malas.


— Sim, sou eu. Obrigada, Lorena.


A sala de estudos/cozinha/espaço coletivo era um pouco pequeno, mas suficiente, e tinha três portas para os quartos, além de uma passagem ao lado para o banheiro.

Uma moça de pele branca contrastando com os cabelos muito negros apareceu na porta de um dos quartos, e Lorena a apresentou:

- Essa é a Ingrid. Ingrid, essa é a Pilar.


Aquelas moças eram realmente bonitas e Pilar se sentiu um pouco inibida. Apesar de viver em León, ainda se achava quase um bicho do mato, mais acostumada a lidar com garous e lobos de todos os tipos do que com o mundo das garotas da cidade.

Mas seriam só humanas?

"Eu falei sobre parentes com Nayara e ela não mencionou que minhas companheiras de apartamento seriam parentes, então assumi que eram humanas. Mas seria bem do perfil de Nayara saber que elas eram parentes e não me ter dito nada. De qualquer modo, eu é quem deveria ter perguntado. Ela perguntou duas vezes se eu tinha alguma dúvida. Não posso cometer essas falhas".


- Ah, oi, muito prazer. Precisa de ajuda pra se instalar?


— Ãh? Ah, não, muito obrigada. Só preciso que me mostrem qual será o meu quarto.

Quando estivesse instalada e todas relaxadas, Pilar puxaria conversa:

— Bem... Um pouco sobre mim... Meu nome inteiro é Pilar Lobo García, nasci em Hermisende, uma cidade pequenina na fronteira entre Espanha e Portugal. A região está entre dois parques naturais e tem um sítio... hum... muito especial, chamado Fraga dos Três Reinos. Estudo Biologia na Universidad de Léon. Estava a pensar se continuaria no curso ou mudaria para Ciencias Ambientais quando me ofereceram um curso de arqueologia zoológica aqui na USP. Então eu vim! Eu amo animais, principalmente os lobos. Falo bem a vossa língua porque já fui voluntária no Centro de Recuperação do Lobo Ibérico em Portugal. Bem, e porque onde eu nasci todo mundo fala uma mistura de espanhol, português e galego. Que mais... Gosto de Billie Eilish, não sei dançar nada e minha cor favorita é o verde. E vocês?

Deu um sorriso meigo.

Se elas fossem parentes, talvez se interessassem especialmente pelo assunto dos parques e dos lobos, esperava Pilar. De qualquer modo, saberia mais sobre suas companheiras de apartamento.

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Mensagem por Alexyus Dom Out 11, 2020 10:54 pm

Pilar escreveu:— Ãh? Ah, não, muito obrigada. Só preciso que me mostrem qual será o meu quarto.

Lorena abriu a porta do quarto do meio e mostrou a Pilar o dormitório dela.

Spoiler:

O quarto tinha um armário  (que ficava atrás da porta, então abrir os doi ao mesmo tempo era impossível), uma cama, uma mesa/estante e uma cadeira. O cômodo inteiro não devia chegar a 4m².

Lorena explicou:

- O quarto da Ingrid é o mais perto da porta, e o meu é o mais perto do banheiro. Fica à vontade! Tem certeza que não quer ajuda pra desfazer as malas? Eu passei dois dias desfazendo as minhas...

Com a negativa de Pilar, Lorena saiu, deixando que ela se instalasse como preferisse.

Quando finalmente Pilar se deu por satisfeita, voltou à sala e encontrou as duas sentadas nos sofás da sala, cada uma lendo um livro.

Pilar escreveu:Quando estivesse instalada e todas relaxadas, Pilar puxaria conversa:

— Bem... Um pouco sobre mim... Meu nome inteiro é Pilar Lobo García, nasci em Hermisende, uma cidade pequenina na fronteira entre Espanha e Portugal. A região está entre dois parques naturais e tem um sítio... hum... muito especial, chamado Fraga dos Três Reinos. Estudo Biologia na Universidad de Léon. Estava a pensar se continuaria no curso ou mudaria para Ciencias Ambientais quando me ofereceram um curso de arqueologia zoológica aqui na USP. Então eu vim! Eu amo animais, principalmente os lobos. Falo bem a vossa língua porque já fui voluntária no Centro de Recuperação do Lobo Ibérico em Portugal. Bem, e porque onde eu nasci todo mundo fala uma mistura de espanhol, português e galego. Que mais... Gosto de Billie Eilish, não sei dançar nada e minha cor favorita é o verde. E vocês?

Deu um sorriso meigo.

Lorena, evidentemente a mais falante, logo se animou com a conversa, dizendo:

- Que legal sua formação, Pilar! e seu português também é muito bom! Mas se não entender alguma coisa, pode falar comigo em espanhol oui inglês, o que for melhor pra você! Bom, eu me chamo Lorena de Oliveira Bressan, e nasci na Bahia, mas por causa do emprego do meu pai, que é jornalista, eu moro em São Paulo desde os 6 anos de idade. Eu estou cursando um mestrado acadêmico de Ciências da Comunicação na ECA, a Escola de Comunicação e Artes. Eu acho que não tenho uma cor favorita assim, e amo todos os tipos de música. E não se preocupe com não saber dançar, porque eu adoro e vou te ensinar!

O tom alegre e dominante de Lorena era envolvente e a conversa com ela fluía com facilidade. Ela parou para respirar e olhou para Ingrid, que parecia hesitar entre a conversa e seu livro.

- Acho que é a sua vez de se apresentar, Ingrid!

Ingrid suspirou e depôs o livro sobre o colo, olhando para Pilar. A voz dela era mais suave e doce que a de Lorena, e ela falava de modo mais lento e cadenciado, com uma pronúncia mais formal do português:

- Meu nome é Ingrid Ardelean Estevez. Sou aluna de mestrado em Ciência da Informação na ECA. Minha cor preferida é preto, gosto de música clássica e só danço se absolutamente necessário.

Lorena deu uma piscada brincalhona para Pilar:

- Não liga pra Ingrid, ela parece chata, mas lá no fundo é muito legal! E ainda bem que você chegou hoje, Pilar. Hoje é quinta-feira, e amanhã, sexta, a gente tem aulas o dia todo, e imagino que você vai ter que ajeitar o seu horário de aulas ainda, mas na sexta à noite vai rolar um filminho no CINUSP. E no sábado à tarde o pessoal da ECA vai fazer uma festinha na quadra aqui perto, e vocÊ vai com a gente!

Ingrid falou delicadamente:

- Talvez ela não queira ir.

Lorena descartou a fala da outra com um gesto displicente:

- Que bobagem, claro que ela vai querer! Não tem nada pra fazer aqui no fim de semana! E temos que aproveitar que não tem pais policiando a nossa diversão! Ah, você tem namorado, Pilar? Se estiver livre, posso te apresentar uns rapazes bem gatos!

Ingrid falou, num tom de voz que não revelava se havia humor ou sarcasmo:

- Talvez ela goste de garotas.
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Mensagem por Lua Seg Out 12, 2020 2:28 pm

E não se preocupe com não saber dançar, porque eu adoro e vou te ensinar!


— Ah! Eu quero, sim!


- Meu nome é Ingrid Ardelean Estevez. Sou aluna de mestrado em Ciência da Informação na ECA. Minha cor preferida é preto, gosto de música clássica e só danço se absolutamente necessário.

Lorena deu uma piscada brincalhona para Pilar:

- Não liga pra Ingrid, ela parece chata, mas lá no fundo é muito legal!


— Eu também demoro um pouco para me soltar — respondeu Pilar com um sorriso amistoso.


E ainda bem que você chegou hoje, Pilar. Hoje é quinta-feira, e amanhã, sexta, a gente tem aulas o dia todo, e imagino que você vai ter que ajeitar o seu horário de aulas ainda, mas na sexta à noite vai rolar um filminho no CINUSP. E no sábado à tarde o pessoal da ECA vai fazer uma festinha na quadra aqui perto, e vocÊ vai com a gente!

Ingrid falou delicadamente:

- Talvez ela não queira ir.

Lorena descartou a fala da outra com um gesto displicente:

- Que bobagem, claro que ela vai querer! Não tem nada pra fazer aqui no fim de semana! E temos que aproveitar que não tem pais policiando a nossa diversão! Ah, você tem namorado, Pilar? Se estiver livre, posso te apresentar uns rapazes bem gatos!

Ingrid falou, num tom de voz que não revelava se havia humor ou sarcasmo:

- Talvez ela goste de garotas.


Pilar sentiu-se ruborizar com a última frase. Não sabia porque. Na seita não havia preconceito, cada um podia seguir sua natureza, embora sempre ressaltassem que, amasse quem amasse, um parente tinha que deixar descendência garou. Em León, Pilar tinha visto meninas de mãos dadas e tudo bem. Não era uma provinciana. E, sim, ela tivera namorados. Na verdade, um namorado. Um breve relacionamento com um dos garotos da ong anti-touradas que ela integrava. E, claro, tinha saído com dois fiannas no tempo que viveu em Portugal. Mas a isso se resumia seu currículo. Estava segura de que até a mais tímida daquelas brasileiras já tinha tido mais experiências amorosas do que ela teria em toda a sua vida. Não que desejasse, mas a sensação de desvantagem aguava seu sangue de senhor das sombras.

— Eu gosto de rapazes, Ingrid — disse do modo mais suave que pôde — E não tenho namorado. Quero ir à festa, sim, Lorena. Quem sabe eu não arranjo um brasileiro parecido com o Jorgito de Avenida Brasil?

****

Na manhã seguinte, Pilar saiu cedo, vestindo uma roupa informal, mas bonita e um batom discreto, mas não a ponto de não ser notado.

Tinha que estar preparada. Não podia ir atrás dos garous, mas isso não significava fugir deles.

Lobisomens eram lobisomens em qualquer lugar e alguns certamente farejariam uma parente nova circulando.

Avisou as meninas que iria sair e combinou como fariam com a chave. Também perguntou como era feita a limpeza, se por elas mesmas ou por algum funcionário da universidade. Isso era importante. Secretamente tinha um estojo trancado com senha, contendo armas e munição, escondido no fundo do saco de roupas sujas, no armário e lhe preocupava a possibilidade de uma pessoa estranha entrando no seu quarto. Perguntou também se haviam regras de convivência entre as meninas do apartamento e onde poderia comprar algum item que faltasse. Se ofereceu para trazer algo, se precisassem.

Desceu pelas escadas.

Se encontrasse Valmir, ira saudá-lo com algum comentário neutro e agradável, para cultivar sua boa vontade. Se fosse outro, cumprimentaria amavelmente.

Em seguida iria ao bloco A, solicitar uma cópia da chave e sairía ao campus para resolver a parte burocrática de sua permanência.

Se desse tempo e houvesse mercado próximo, compraria alguma comida saudável para não contar somente com a do bandejão.

Voltaria a tempo de tomar um banho e ir com Lorena no CINUSP, caso ela a chamasse. Senão, iria sozinha.

Era preciso circular...

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Pilar Lobo - O Ovo da Serpente Empty Re: Pilar Lobo - O Ovo da Serpente

Mensagem por Alexyus Sáb Out 17, 2020 3:42 pm

Pilar escreveu:— Eu gosto de rapazes, Ingrid — disse do modo mais suave que pôde — E não tenho namorado. Quero ir à festa, sim, Lorena. Quem sabe eu não arranjo um brasileiro parecido com o Jorgito de Avenida Brasil?

Lorena deu um gritinho de excitação e disse:

- Ai, meu Deus, você gosta de novelas? Quais você já viu? O Cauã Raymond é lindo, né?...


O restante da noite foi preenchido pelo alegre tagarelar/fofocar juvenil que as mulheres jovens adoram, até que o sono as venceu e elas tiveram que ir dormir. Lorena falava pelos cotovelos, enquanto Ingrid era muito mais discreta e econômica nas palavras.

A noite no novo dormitório passou sem incidentes, e Pilar dormiu razoavelmente bem, considerando o colchão desconhecido onde se deitou.


Pilar escreveu:Avisou as meninas que iria sair e combinou como fariam com a chave. Também perguntou como era feita a limpeza, se por elas mesmas ou por algum funcionário da universidade. Isso era importante. Secretamente tinha um estojo trancado com senha, contendo armas e munição, escondido no fundo do saco de roupas sujas, no armário e lhe preocupava a possibilidade de uma pessoa estranha entrando no seu quarto. Perguntou também se haviam regras de convivência entre as meninas do apartamento e onde poderia comprar algum item que faltasse. Se ofereceu para trazer algo, se precisassem.

Lorena e Ingrid já tinham tirado uma cópia da chave do dormitório para que ambas tivessem cada uma a sua, mas Lorena prometeu deixar sua chave na portaria quando saísse para que Pilar não ficasse trancada para fora até o retorno delas. Elas explicaram que havia uma escala semanal de limpeza em que elas se revezavam entre a sala e o banheiro, mas que incluiriam Pilar na escala, assim, a cada semana, uma das três poderia descansar enquanto uma cuidava da sala e a outra do banheiro. Ambas disseram que não entravam no quarto das outras sem permisão, e esperavam o mesmo de Pilar. 

As regras de convivência eram razoavelmente simples, muitas adaptadas do código do CRUSP: ninguém entrava no dormitório após as 23 horas (assim como no prédio como um todo); era permitido trazer convidados para o apartamento, mas para que pernoitassem era necessário avisar ao CRUSP com antecedência, assim como às companheiras de quarto também; não era permitido ter ou portar armas nas dependências do CRUSP, e Lorena se colocou totalmente contra violência de qualquer tipo (Ingrid não disse nada).

A questão de comprar coisas era mais relativa, e Lorena explicou:

- Se ainda não fez, quando você for na administração, peça o auxílio-livro e o auxílio-refeição, eles praticamente garantem sua vida aqui! Tudo que a gente precisa em questão de casa, a gente pode pedir no Bloco A, como a sua cópia da chave (aliás, você vai ter que levar a minha pra eles copiarem). Consertos na casa e nos eletrodomésticos, eles cuidam de tudo, mas geralmente demoooram... Se você trouxe roupas suficientes, acho que não precisa de muito mais coisas, mas sábado a gente pode dar uma volta no bairro ao redor da Cidade Universitária. O Butantã é um bairro um pouco caro aqui em São Paulo, mas se você quiser algo específico também podemos procurar mais longe do campus.


Com essa nova avalanche de informações de Lorena, Pilar saiu do dormitório. Na portaria, estava uma mulher no lugar onde Valmir estivera na noite anterior. O crachá dela, grafado errado, dizia "Roseli".

Porteira:

Os problemas burocráticos foram resolvidos facilmente, ainda que a demora na espera tenha sido um pouco longa. A cópia da chave foi feita mediante a apresentação do novo crachá escolar de Pilar, e não custou nada. Como não havia mercados próximos, Pilar voltou pouco depois da hora do almoço, mas o bandejão ainda estava servindo, e ela pode fazer sua refeição: apesar do paladar diferente de sua terra, a comida era saborosa e substanciosa, não aparentando ter nada de processado industrial.

Pilar teve a tarde livre para organizar suas coisas com o apartamento vazio. Ingrid retornou pouco antes das 17 horas, entrando silenciosa como um gato, cumprimentou brevemente Pilar, tomou um banho e fechou-se em seu quarto. Duas horas depois, Lorena chegou como um furacão, falando em voz alta e afobada:

- Pilarzinha do céu, hoje aquele professor acabou comigo! Só consegui acabar de fazer tudo que ele queria agora! Ficou muito sozinha durante o dia? Vou tomar um banho e me arrumar e a gente vai na mostra do CINUSP, assim você sai um pouco! É rapidinho, tá? 

Obviamente, o conceito de Lorena sobre o que era "rapidinho" era bastante exótico, pois ela só terminou de se arrumar uma hora e meia depois. Ela colocara uma blusinha preta enganosamente simples mas com um corte de um famoso estilista, uma minissaia que apesar de preta brilhava com o reflexo da luz e sandálias de salto alto, acentuando sua boa altura. A maquiagem e o perfume também pareciam indicar que Lorena pensava no evento acadêmico como uma espécie de balada.

Ao caminhar pelo corredor entre os prédios do CRUSP, Lorena trocou cumprimentos com mais de uma pessoa; aparentemente ela era bem popular e conhecida, ao menos ali no CRUSP. elas logo chegaram ao CINUSP, que parecia um genuíno complexo de projeções cinematográficas (mas sem pipocas). Um cartaz anunciava a Mostra de Filmes de Sci-Fi dos Anos 80. O auditório não estava lotado, e Lorena conseguiu levar Pilar até assentos, tão discretamente quanto era possível, já que um filme já estava em projeção naquele momento.

CINUSP:

Rolagem de Percepção+Manha de Pilar:

Olhando ao redor, Pilar começou a distinguir um pouco as "tribos" dos estudantes da USP: maurincinhos, nerds, descolados, etc. Mas ainda não saberia completar o perfil de cada uma.
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Pilar Lobo - O Ovo da Serpente Empty Re: Pilar Lobo - O Ovo da Serpente

Mensagem por Lua Sáb Out 17, 2020 11:31 pm

- Ai, meu Deus, você gosta de novelas? Quais você já viu? O Cauã Raymond é lindo, né?...


— Sim. Na verdade eu vi só essa novela, mas minha mãe gosta muito. Agora ela está vendo uma turca, cheia de lágrimas e drama, mas eu não sei o nome.


Lorena falava pelos cotovelos, enquanto Ingrid era muito mais discreta e econômica nas palavras.


Pilar escutava e correspondia à tagarelice de Lorena, mas sem deixar de prestar atenção a Ingrid. Em parte por cortesia, em parte porque poderia haver algo mais que introversão por trás daquele isolamento. Também porque sentia uma certa afinidade com o jeito esquivo da moça. Sempre que podia, tentava incluir Ingrid na conversa, perguntando sobre sua opinão e gostos, mas sem forçar.


Na portaria, estava uma mulher no lugar onde Valmir estivera na noite anterior. O crachá dela, grafado errado, dizia "Roseli".


Pilar cumprimentou Roseli amavelmente e, de novo, memorizou o nome.


- Pilarzinha do céu, hoje aquele professor acabou comigo! Só consegui acabar de fazer tudo que ele queria agora! Ficou muito sozinha durante o dia? Vou tomar um banho e me arrumar e a gente vai na mostra do CINUSP, assim você sai um pouco! É rapidinho, tá?

Obviamente, o conceito de Lorena sobre o que era "rapidinho" era bastante exótico, pois ela só terminou de se arrumar uma hora e meia depois. Ela colocara uma blusinha preta enganosamente simples mas com um corte de um famoso estilista, uma minissaia que apesar de preta brilhava com o reflexo da luz e sandálias de salto alto, acentuando sua boa altura. A maquiagem e o perfume também pareciam indicar que Lorena pensava no evento acadêmico como uma espécie de balada.


Pilar achou engraçado o modo como Lorena a chamou. Disse que não havia se sentido sozinha, pois tivera muito o que ver e fazer e isso a distraíra.

Achou meio brega toda aquela arrumação e perfume para ir a uma sala de cinema, mas as sul-americanas eram mesmo assim, era o jeito delas. E talvez o cinema cheirasse mal, então poderia ser até útil o exagero de Lorena.

Vestiu-se relativamente rápido. Tinha tomado um banho, lavado os cabelos e, enquanto Lorena se arrumava, feito uma leve escova. Gostava dos seus cabelos. Eram macios e brilhantes e, quando estavam cuidados como agora, eram uma das partes mais bonitas do seu corpo.

Não foi difícil escolher a roupa, pois tinha feito uma mala inteligente, com peças que permitiam várias combinações entre si. Nessas coisas era sempre acessorada por sua prima Amparo, a beldade de família. Suas roupas eram de excelente qualidade, escolhidas a dedo para ficarem bem nela e de cortes atemporais, com um ou outro acessório divertido para não ficar muito adulta. Pilar gostava roupas bonitas, mas evitava tudo o que era relacionado a tendências e compras em excesso. Na família sabiam o quanto a indústria da moda maltratava o corpo de Gaia, então eram muito mais criteriosas do que a maioria das meninas.

Escolheu uma calça escura um pouco mais ajustada e uma blusa preta com um decote que realçava seus ombros— outro dos seus pontos fortes. Completou com brincos, uma bela sandália de salto médio e batom.

Não havia problema em ficar baixa ao lado da exuberante Lorena. Os seres que Pilar buscava saberiam reconhecê-la – ou assim esperava.


Olhando ao redor, Pilar começou a distinguir um pouco as "tribos" dos estudantes da USP: maurincinhos, nerds, descolados, etc. Mas ainda não saberia completar o perfil de cada uma.


Observava discretamente a audiência, enquanto conversava amenidades com Lorena.

— Todo campus tem seus esquisitões. Como são os daqui? — perguntou, jogando verde.

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Mensagem por Alexyus Ter Nov 10, 2020 7:36 pm

Pilar escreveu:Observava discretamente a audiência, enquanto conversava amenidades com Lorena.

— Todo campus tem seus esquisitões. Como são os daqui? — perguntou, jogando verde.

Lorena, que parecia mais disposta a bater papo que assistir a qualquer filme, empolgou-se logo com o assunto:

- Bom, toda turma tem seus esquisitos, mas  vou te dar uma pequena palestra sobre "As Tribos de Cada Escola da USP"!

Ela se ajeitou mais na poltronja para que pudessem falar em voz baixa sem incomodar quem realmente estivesse ali para ver as projeções cinematográficas.

- Bom, começando pela Escola Politécnica, você encontra a turma das Engenharias. Eles parecem normais e gente boa, mas os assuntos deles Às vezes ficam um tanto técnicos demais. Eis ali um grupinho deles.

Spoiler:

Apontando o grupo, Lorena riu quando eles  ergueram os olhos, como se pressentissem que estavam falando deles.

- Depois temos os rivais deles, o pessoal da FAU - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Um amigo meu me disse uma vez que o arquiteto é alguém que não foi macho o suficiente para fazer Engenharia e gay o suficiente para fazer Decoração. Claro, isso é bem preconceituoso, mas ajuda a expressar o nível de afetação e arrogância que a maioria desse pessoal tem. Eles têm o hábito de te medir de alto a baixo e te julgam pelo que você sabe sobre estilo e estética urbana. Um saco, se quer saber. Olha uns ali!

Spoiler:

Ela não fez questão de disfarçar o gesto enquanto apontava o grupo para Pilar, e nem deu mais de um momento de sua atenção a eles.

- Completando a trindade dos elitistas, temos a galera da FEA - Faculdade de Economia e Administração. Eles costumam ser tão ou mais técnicos que o pessoal da Engenharia, e um pouco mais esnobes que os da FAU, mas ao contrário deles, eles têm chances reais de virarem magnatas endinheirados quando terminarem o curso. E são bem poucos os que conseguem ir até o final desses cursos, he, he.

Lorena gargalhou e teve que conter-se para bafar o riso quando um grupo do que pareciam jovens executivos passou por elas.

Spoiler:

- Bom, tem também a galera da FFLCH - Faculdade de Filosofia, Letras, Ciências e Humanidades. Ufa, eu sempre tenho que me esforçar pra lembrar de todas as letras. Essa é a turma dos ratos de biblioteca, os nerds que gostam de dar aula (e muitos deles vão acabar virando professores mesmo!). São uma turma bem diversificada, e alguns são bastante divertidos. As más línguas dizem que eles são assim porque os cursos deles são os mais fáceis de toda a USP, mas não vamos julgar, né?

Ela acenou para um grupo com amabilidade, que responderam o aceno com sorrisos e tchauzinhos amistosos.

Spoiler:

- Por fim, a ECA - Escola de Comunicações e Artes! Na minha humilde opinião, a melhor de todas! Muitos artistas, pintores, músicos, teatrólogos, aspirantes a publicitários e jornalistas, como essa ao seu lado!

Pilar já tinha visto vários dos amigos de Lorena para saber o perfil da "galera" dela.

- Mas em todo lugar existem variações, constrates, essas coisas. Já conheceu seus colegas de curso?
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Mensagem por Lua Ter Nov 10, 2020 11:18 pm

Pilar ouviu toda a conversa de Lorena, sorrindo e concordando, mas tentando não demonstrar a sua decepção.

Aquela era uma descrição dos alunos normais de qualquer universidade. Não diferia muito do panorama da Universidad de León. Nada que pudesse indicar um garou ou parente.


- Mas em todo lugar existem variações, constrates, essas coisas. Já conheceu seus colegas de curso?


— Não, ainda não — respondeu desanimada.

Como o filme ainda não começara, Pilar insistiu um pouco mais no assunto.

— Sabes, tu me estás a falar de pessoas normais. Eu perguntei — ajeitou-se na poltrona, cochichando em tom de fofoca — sobre os tipos esquisitões de verdade... Aquele pessoal mais... "folclórico". Ou estranho.

Após um ano de faculdade, Pilar já conhecia alguns desses tipos na UniLeón, mas não era deles que ela iria falar. Em uma tentativa de extrair alguma informação não conscientizada por Lorena, passou a descrever os próprios garous de sua seita como se fossem alunos da universidade.

— Por exemplo, na minha faculdade tem um grupo de grandalhões barbudos e musculosos. Andam sempre juntos e acho que fazem cursos relacionados à natureza, Engenharia Florestal, Ciencias Ambientais etc porque estão sempre interessados em ecologia. São muito fixes, quero dizer, muito legais. Falam alto, bebem demais, estão sempre às voltas com raparigas e festas e tu queres fazer parte da turma deles... Mas quando chegas perto.... não sei, te dão medo. Perecem meio animalescos, selvagens. Entendes? Já sentiste isso com alguém aqui?

Esperou a reação de Lorena.

— E tem outro, muito lindo. Uns olhos cinzentos e oblíquos que tu te derretes! Mas ele quase não fala, nunca está com raparigas... ou rapazes e te dá a sensação de que se tu o olhares por mais de três minutos, vai pular na tua garganta...

Se tiveres feito algo a um lobo, ele vai pular mesmo, pensou Pilar.

— Também tem o Álvaro — Pilar sorriu sem querer — Ele é um doce. Está se formando em Biologia e segue a filosofia Ahimsa de não violência. Evita ao máximo matar qualquer criatura, por menor que seja. Se tu gritares porque viste uma aranha ou barata, ele vai recolher o bichinho e levá-lo para longe, dando-lhe conselhos, hahaha.

Mas Alvi não é o único filho de Gaia.

— E tem a Zoe. Ela já começou uns cinco cursos, mas nunca termina. Parece que está sempre a andar com a cabeça em outro mundo. É toda espiritualizada e entende muito de plantas. Dizem que o único estudo que ela leva a sério é o das ervas...

Em todos os sentidos, para ser justa.

— Ah, e como eu falei em baratas, o Gianfranco também nunca mata baratas — dessa vez Pilar baixou a voz até sussurrar — Ele parece gostar delas. Às vezes lhes deixa um pratinho com açúcar! Podes imaginar? Não sei que curso ele faz, mas é muito bom com máquinas e computadores. Também é fixe, mas ultimamente anda triste porque perdeu um braço em um acidente...

...Com um Dançarino da Espiral Negra.

— Bem, é sobre esse tipo de esquisitões que estou a perguntar — resumiu Pilar.

Depois deu uma olhada discreta na jornalista a seu lado, procurando ver se havia alguma de coisa de particular nela, como para Lorena a ter destacado.

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Mensagem por Alexyus Sáb Nov 21, 2020 1:25 pm

Pilar escreveu:— Sabes, tu me estás a falar de pessoas normais. Eu perguntei — ajeitou-se na poltrona, cochichando em tom de fofoca — sobre os tipos esquisitões de verdade... Aquele pessoal mais... "folclórico". Ou estranho.

— Bem, é sobre esse tipo de esquisitões que estou a perguntar — resumiu Pilar.

Spoiler:

Lorena escutou as descrições de Pilar com uma expressão atenciosa. Pilar estava adivinhando que aquela era a cara de Lorena para quando se ouve as reminiscências de alguém sobre pessoas não se conhece, mas quer demonstrar cortesia em vez de cortar o assunto.

No final, Lorena deu um suspiro (de alívio?) e disse:

- Bom, tem "esquisitões" em todos os lugares, cada curso têm os seus próprios. Pessoas que não se encaixam no grupo. Mas você não precisa se preocupar em ser um desses, Pilar! Você é bonita, simpática e tem a melhor amiga possível no campus! Hahaha! Mas você gosta desses tipos esquisitos? É um fetiche seu? Ou alguma coisa a ver com o campo de estudo do seu curso?

Para a sorte (ou azar?) de Pilar, Ingrid falou nesse momento, em sua voz contida e precisa:

- Estranho é vocês virem ao cinema para conversar em vez de assistir ao filme! Façam silêncio, antes que sejam expulsas da sala!

Ingrid estava sentada na cadeira ao lado de Pilar, do lado oposto de Lorena, de modo que enquanto Pilar falava com Lorena, não estava olhando exatamente para a direção daquele assento. Mas mesmo assim foi uma surpresa, até mesmo para Lorena, quando Ingrid anunciou subitamente sua presença, mesmo que fosse para silenciá-las.
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Mensagem por Lua Sáb Nov 21, 2020 3:23 pm

Lorena escutou as descrições de Pilar com uma expressão atenciosa. Pilar estava adivinhando que aquela era a cara de Lorena para quando se ouve as reminiscências de alguém sobre pessoas não se conhece, mas quer demonstrar cortesia em vez de cortar o assunto.


Não funcionou, pensou Pilar, desanimada.


- Bom, tem "esquisitões" em todos os lugares, cada curso têm os seus próprios. Pessoas que não se encaixam no grupo. Mas você não precisa se preocupar em ser um desses, Pilar! Você é bonita, simpática e tem a melhor amiga possível no campus! Hahaha! Mas você gosta desses tipos esquisitos? É um fetiche seu? Ou alguma coisa a ver com o campo de estudo do seu curso?


— Não, só curiosidade pela "fauna" local mesmo. Afinal vou ser biológa, né? — brincou.

Deu um sorriso e encerrou a questão. Não obteria nada de Lorena.


- Estranho é vocês virem ao cinema para conversar em vez de assistir ao filme! Façam silêncio, antes que sejam expulsas da sala!


— Desculpe, não vi que tinha começado — sussurrou rapidamente — Que bom que você veio.

O comentário era sincero. Não havia motivo, mas Pilar se sentia melhor com a rabugice de Ingrid do que com a alegria esfuziante de Lorena.

Passou o resto do tempo em silêncio, vendo o filme e torcendo para que aparecesse alguém útil à missão, ou pelo menos mais interessente. Estava começando a ficar com saudade de casa.


Não tenho muito que fazer, então peço um teste de percepção para tentar ver se Ingrid é garou.

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Mensagem por Alexyus Qui Dez 03, 2020 11:27 am

Pilar rolls 3 dice to Percepção+Instinto Primit (Diff 7) 4,2,5 [failure]

Pilar olhou para Ingrid, tentando achar algum sinal da Fúria característica dos garous.

Mas não viu nada de anormal. Ingrid parecia muito calma e controlada. Talvez até calma demais.

Depois da reprimenda dela, tanto Lorena quanto Pilar tiveram que acabar de ver o filme em silêncio.

Após a sessão de cinema, já no limite das 23 horas que eram o horário de recolhimento do CRUSP, Lorena e Ingrid voltaram rapidamente com Pilar para o apartamento.

No dia seguinte, sábado, tanto Lorena quanto Ingrid acordaram tarde, ocupadas em estudar, fazer trabalhos, e outras coisas de estudanente. Elas só se dispuseram a sair, já arrumadinhas, para almoçar no bandejão, a primeira vez que as duas estavam diponíveis para comer junto com Pilar.

(Fique à vontade para definir qualquer atividade matinal que a Pilar tenha feito. Se quiser interpretar alguma conversa durante o almoço com a Ingrid e a Lorena).

Depois do almoço, as moças voltaram para tomar banho e se arrumar, e Lorena obrigou Pilar a se arrumar "melhorzinha".

A tal festa da ECA era uma espécie de reunião ao ar livre nas quadras próximas do CRUSP, como um churrasco sem carne e com muito álcool.

Quando Pilar, Lorena e Ingrid se aproximava das quadras, já conseguiam ver que a festa de fato acontecia na quara mais próxima, enquanto as demais quadras eram usadas para prática de esportes, futebol e basquete, mas os alunos não eram lá grandes jogadores.

Ao entrar na quadra onde acontecia a festa, Pilar sentiu uma sobrecarga sensorial, tentando absorver tudo.

A quadra não era nova nem muito conservada, mas era segura e tinha um certo charme de cenário alternativo, underground. Havia uma música tocando, algo entre techno e funk, num volume mais baixo do que uma boate teria mas ainda assim bastante alto. O ar tinha cheiros misturados de álcool, comida barata e gordurosa, perfumes e suor.

Ingrid deu um suspiro de resignação enquanto Lorena soltou um gritinho de excitação.

Elas entraram pelo meio da quadra, e logo à frente delas havia uma pequena aglomeração de jovens dançando ao redor de um aparelho de som portátil que pulsava com as batidas da música. Pareciam jovens de estilos diferentes, mas estavam dançando juntos, bastante animados, rindo uns para os outros. Talvez estivessem bêbados.

À esquerda, no canto mais distante, tinham improvisado um bar rústico, onde dois rapazes e uma moça se serviam de doses generosas de alguma bebida sem rótulo. Pela aparência, ali deveria ter tido alguma espécie de aperitivo, mas que já acabara, deixando apenas bandejas oleosas de sobra. Perto deles, um cachorro preto farejava em busca de algum resto de comida.

No canto oposto, um rapaz de aparência arrumada para parecer desarrumado já estava agarrando uma moça morena, prensando-a contra a amurada enquanto se beijavam ardentemente.

À direita delas, parecendo alheia ao som retumbante da música eletrônica, alguns jovens tinham formado uma rodinha de violão, e se revezavam em tocar e cantar canções aparentemente bem conhecidas por eles.

Na extremidade oposta a eles, uma rodinha de meninas conversava, parecendo fofocar. Uma delas tinha um ar enfadado e entediado, agindo com condescendência enquanto escutava as amigas. A loira entre elas parecia a mais animada, falando sem parar e rindo sozinha enquanto observavam a festa; ela se vestia de uma forma bastante exótica, parecendo uma patricinha usando roupas da boneca Barbie. A terceira delas parecia a mais normal e tímida, e parecia quase tão intimidada quanto Pilar poderia.

Ingrid falou, sua voz quase inaudível por cima da música:

- Bom, eu vou me sentar ali na rodinha de violão. Vocês duas comportem-se e não arrumem confusão!

Lorena bateu continência pra Ingrid, rindo, e enquanto ela se afastava, perguntou para Pilar:

- Então, Pilarzinha, o que você quer fazer primeiro?

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Mensagem por Lua Qui Dez 03, 2020 2:23 pm

No dia seguinte, sábado, tanto Lorena quanto Ingrid acordaram tarde, ocupadas em estudar, fazer trabalhos, e outras coisas de estudanente.



Pilar acordou cedo e aproveitou  para passear pelo campus, a fim de se familiarizar com o lugar.

De volta a seu quarto, começou a olhar a papelada do curso que ia fazer, para matar o tempo. Chamava sua atenção como os sobrenomes dos brasileiros eram variados, ao contrário dos portugueses. Lembrou-se dos sobrenomes de Ingrid e Lorena e teve uma idéia. Desconectada de todos os seus perfis na internet, fez uma busca sobre as origens dos sobrenomes dos seus futuros companheiros de curso*, de alguns brasileiros famosos, do seu e de seus primos, para disfarçar. Entre todos eles, colocou os das companheiras: Bressan e Ardelean. Depois fez uma busca pelo perfil imigratório do Brasil desde o século passado para comparar. Seu objetivo era descobrir se alguma delas vinha de um grupo étnico pouco comum no Brasil, o que poderia indicar o pertencimento a uma tribo garou.



Elas só se dispuseram a sair, já arrumadinhas, para almoçar no bandejão, a primeira vez que as duas estavam diponíveis para comer junto com Pilar.



Pilar comeu pouco, levando o garfo meio vazio à boca para acompanhar as meninas sem dar muito na cara que ainda estava estranhando a comida brasileira.

Procurou manter uma conversa agradável e neutra, mas aos poucos foi levando o assunto para a área da família.

— Hoje me deu muita saudade da minha mãe. Antes de ir a León, eu morava com meu pai, mas a visitava com frequência. E vós? Tendes saudades? Pretendeis voltar a morar com vossos pais depois de terminar os estudos? Tua família está em São Paulo, não é mesmo Lorena? E a tua, Ingrid? Vais a viver com eles de novo ou tens outros planos? Quer dizer, se não for indelicado perguntar. Ainda não conheço bem os vossos costumes.


Depois do almoço, as moças voltaram para tomar banho e se arrumar, e Lorena obrigou Pilar a se arrumar "melhorzinha".


Como boa senhora das sombras, Pilar fez uma concessão a Lorena e se vestiu como ela indicou. Felizmente o guarda-roupa de Pilar era inteligente e estava blindado ao mau gosto de Lorena, por mais esdrúxulas que fossem as combinações por ela sugeridas.


A tal festa da ECA era uma espécie de reunião ao ar livre nas quadras próximas do CRUSP, como um churrasco sem carne e com muito álcool.

Quando Pilar, Lorena e Ingrid se aproximava das quadras, já conseguiam ver que a festa de fato acontecia na quara mais próxima, enquanto as demais quadras eram usadas para prática de esportes, futebol e basquete, mas os alunos não eram lá grandes jogadores.

Ao entrar na quadra onde acontecia a festa, Pilar sentiu uma sobrecarga sensorial, tentando absorver tudo.


Pilar observou a reunião com espírito aberto. Era a primeira festa universitária a que ia. Ainda não tinha comparecido a nenhuma em León, pois a cidade estava infestada por vampiros e outros inimigos e Pilar preferia estar mais ambientada antes de colocar-se em uma situação vulnerável. Mas a USP era território garou, então esta era a chance de se divertir um pouquinho.


A quadra não era nova nem muito conservada, mas era segura e tinha um certo charme de cenário alternativo, underground. Havia uma música tocando, algo entre techno e funk, num volume mais baixo do que uma boate teria mas ainda assim bastante alto. O ar tinha cheiros misturados de álcool, comida barata e gordurosa, perfumes e suor.


O cheiro do álcool a fez recordar-se dos festivais dos fiannas. Pilar não queria admitir, mas sentia saudades daqueles brutamontes.


Ingrid falou, sua voz quase inaudível por cima da música:

- Bom, eu vou me sentar ali na rodinha de violão. Vocês duas comportem-se e não arrumem confusão!


Pilar não gostava de rodinhas de violão, mas ainda preferia a companhia mais seca de Ingrid à efusividade de Lorena. Como não foi convidada, porém, resignou-se a escolher outra opção.


Lorena bateu continência pra Ingrid, rindo, e enquanto ela se afastava, perguntou para Pilar:

- Então, Pilarzinha, o que você quer fazer primeiro?


À esquerda, no canto mais distante, tinham improvisado um bar rústico, onde dois rapazes e uma moça se serviam de doses generosas de alguma bebida sem rótulo. Pela aparência, ali deveria ter tido alguma espécie de aperitivo, mas que já acabara, deixando apenas bandejas oleosas de sobra. Perto deles, um cachorro preto farejava em busca de algum resto de comida.


— Lorena, tu vais desculpar-me, mas eu não consigo ver um animalzinho com fome...

Pilar andou pela festa, procurando conseguir alguma comida que apetecesse a um cachorro. Depois foi levá-la até o animal.

À distância, ele lembrava um lobo e Pilar sentiu o coração apertar ao se recordar dos lobos com que trabalhara nos projetos de conservação e também um pouco de saudade dos garras vermelhas com que convivia em sua seita. Se bem fossem muito mais esquivos do que os outros garous, não deixavam de ser parte de sua grande "família".


*ou outra lista equivalente que ela possa ter visto.

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Mensagem por Alexyus Seg Dez 14, 2020 2:27 pm

Pilar escreveu:Desconectada de todos os seus perfis na internet, fez uma busca sobre as origens dos sobrenomes dos seus futuros companheiros de curso*, de alguns brasileiros famosos, do seu e de seus primos, para disfarçar. Entre todos eles, colocou os das companheiras: Bressan e Ardelean. Depois fez uma busca pelo perfil imigratório do Brasil desde o século passado para comparar. Seu objetivo era descobrir se alguma delas vinha de um grupo étnico pouco comum no Brasil, o que poderia indicar o pertencimento a uma tribo garou.

O curso de extensão universitária de Pilar não era uma área muito comumou procurada, e ela estava familiarizada com as poucas intituições ao redor do globo que pesquisavam aquele tópico. Entre seus colegas de curso, estavam nomes que ela já conhecia da leitura de artigos científicos, e uns poucos outros eram originários de universidades respeitáveis dos EUA e da Europa. Havia dois brasileiros na lista: Benjamim Santos Flores, um professor-assistente da própria USP, e Miriam Mendes, arqueóloga com atuação destacada na Amazônia paraense.

Sobre suas amigas, Pilar começou por Lorena Bressan e descobriu que o nome Bressan é de origem Italiano e significa em italiano: habitante ou alguém de Brescia, a partir de uma variante do norte, Bressan (o), de Bresciano, uma forma adjetiva do nome do local.
Também havia umaversão francesa: provavelmente uma variante do francês Bresse, sobrenome étnico de alguém da região da França chamada Bresse, ou habitante de qualquer um dos vários locais com este nome. Por não se tratar de um nome muito comum na língua portuguesa, escrever, lembrar e pronunciar o nome Bressan é considerado muito difícil em Portugal, mas os brasileiros sempre demonstraram facilidade para absorver outras culturas.

A imigração italiana ao Brasil tinha sido intensa no fim do século 19 e início do 20, resultando em grandes colônias no sul e sudeste do país. Ao contrário de algumas culturas puristas, os italianos estabeleceram muitos laços com o povo brasileiro, misturando-se amplamente em famílias de duas ou mais nacionalidades. Mais tarde, tornou-se comum a ocorrência de sobremoes italianos em quase todas as partes do país. Isso poderia explicar um pouco porque uma negra de origem baiana tinha olhos verdes e um sobrenome provavelmente italiano como Lorena Bressan.

Era até possível traçar as árvores genealógicas dos descedentes de italianos no Brasil, havendo vários sites que reuniam árvores de cada sobrenome. Mas para isso Pilar ainda não tinha dados suficientes sobre Lorena.

A pesquisa sobre Ingrid Ardelean foi mais complexa: Ardelean era um sobrenome romeno, e não havia grandes colônias de descendentes da Romênia como havia os da Itália. Até onde Pilar pôde descobrir, Ardelean era um sobrenome étnico de nascidos ou habitantes de Bicazu Ardelean, uma comunidade composta de alguns vilarejos no condado romeno de Neamt.

Pesquisando a imigração romena, Pilar descobriu que os anos de 1928 e 1929 foram muito ruins para os moradores das vilas nos arredores de Krasna. Primeiro porque o inverno foi muito rigoroso nestes anos o afetou as pastagens, as árvores frutíferas e inviabilizou a produção de alimentos. Além disso, a crise econômica de 1929 também afetou a Romênia gerando sérias dificuldades para a população.
As condições de vida da população nas vilas de colonos eram muito ruins, para não dizer péssimas. Nesse contexto de crise da Europa no ano de 1929 surgiu a possibilidade de imigrar para a América, principalmente para o Canadá, Argentina e Brasil.
Assim algumas famílias venderam suas propriedades, juntaram os pertences que fossem possíveis de serem levados e partiram em viagem para o Porto de Hamburgo, de onde pegariam um navio. É importante destacar que nem todas as famílias tinham a certeza de seu destino, sabiam somente de que iriam imigrar para a América, estando estas famílias à mercê de grupos de pessoas que destinavam colonos aptos a trabalhar como mão de obra barata na América.  Muitas famílias imaginavam imigrar para o Canadá e no Porto de Hamburgo eram alocados em navios que vieram para o Brasil, sob alegação de epidemias ou qualquer outra desculpa.
A viagem de carroça e de trem de da Romênia até Hamburgo durava por volta de uma semana. A viagem de navio até o Brasil durava aproximadamente mais 30 dias. No navio viajavam famílias de diversas origens, católicos e evangélicos, que em não poucas vezes promoviam discussões calorosas sobre religião. A viagem era penosa, causando enjoos, doenças e até mortes.
Na chegada ao porto de Santos, São Paulo, muitos colonos foram convencidos a desembarcar para trabalhar nos cafezais. No entanto, a maioria seguiria viagem até o Sul, pois se sabia que lá existiam colônias alemãs e italianas. Na chegada ao porto de Rio Grande, as famílias foram alojadas num hotel em condições precárias, e após um breve descanso foram transportados de trem e de caminhão até o Estado de Santa Catarina. Na chegada a Santa Catarina foi oferecida duas opções de colônias para as famílias romenas, a de Porto Feliz (Mondaí) de caráter evangélico, e a colônia Porto Novo (Itapiranga), de caráter católico.
No extremo oeste de Santa Catarina tiveram que enfrentar a adversidade da vida pioneira para comprar um lote de terra e iniciar uma nova vida distante de sua terra natal na Romênia.
No Brasil, as famílias que falavam o alemão e o romeno tiveram que se adaptar a uma nova realidade. A linguagem preponderante nos primeiros anos das colonizações de Mondaí e Itapiranga era o alemão e por isso o romeno acabou caindo em desuso. Os laços culturais com a Romênia, principalmente nos costumes e na linguagem foram duramente afetados no período da Segunda Guerra Mundial, com a adesão do Brasil à guerra. Naquele momento foram proibidas todas as manifestações socioculturais que tivessem vínculo com a Alemanha, a Itália e a Romênia.  A população foi praticamente forçada a se adaptar à língua brasileira, inclusive as crianças, que passaram a receber as lições escolares em português.Os imigrantes romenos se estabeleceram em diversas comunidades do extremo oeste catarinense, principalmente de Mondaí e Itapiranga. Na comunidade de Linha Santo Antônio, interior do município de Itapiranga, existe hoje uma réplica de uma cruz em homenagem à vila de Krasna.

Pilar achou até uma lista de sobrenomes romenos no site da embaixada romena no Brasil, mas Ardelean não constava entre eles. A lista não era de modo algum completa, pois os eventos da 2ª guerra mundial tinham desarticulado os romenos como comunidade organizada, e muitos nunca recuperaram os traços culturais que os ligavam à sua cultura ancestral, nem sequer se reconhecendo como romeno-brasileiros. Talvez o caso da família Ardelean fosse um desses.  

Pilar no almoço escreveu:— Hoje me deu muita saudade da minha mãe. Antes de ir a León, eu morava com meu pai, mas a visitava com frequência. E vós? Tendes saudades? Pretendeis voltar a morar com vossos pais depois de terminar os estudos? Tua família está em São Paulo, não é mesmo Lorena? E a tua, Ingrid? Vais a viver com eles de novo ou tens outros planos? Quer dizer, se não for indelicado perguntar. Ainda não conheço bem os vossos costumes.

A comida da USP, embora tipicamente brasileira, era econômica em temperos para supostamente ser o mais saudável possível e adaptar-se a paladares diferente. Mas havia vidros de sal e pimenta para cada um dosar cada condimento na proporção de sua preferência.

No sábado, é claro que o cardápio consistia numa feijoada, uma sopa de feijão preto e vários cortes de carne diferentes. Apesar de Lorena explicar que era uma versão light, Pilar ainda acharia uma refeição bastante pesada. 

Lorena confirmou a pergunta sobre sua família, pois estava com a boca cheia com a feijoada, que aparentemente adorava.

Já Ingrid, comendo mais comedidamente, respondeu sucintamente:

- Eu já não morava com meus pais antes. Já tenho alguns trabalhos freelancer, mas talvez eu consiga ser correspondente internacional quando terminar o curso. 

Pilar na quadra escreveu:— Lorena, tu vais desculpar-me, mas eu não consigo ver um animalzinho com fome...

Lorena não se importou com o afastamento de Pilar, e foi dançar com as pessoas no centro da quadra.

Não foi fácil achar algum petisco remanescente, mas Pilar revirou as bandejas do bar, ignorando o olhar de estranhamento dos outros jovens que bebiam ali perto, e por fim ela encontrou uns pedaços de pão de alho.

Ao se aproximar do cachorro, o olhar treinado de Pilar analisou o grande animal preto, e logo viu através do disfarce: não era um cão, mas um lobo. Se ainda houvesse dúvidas, elas acabaram quando ela encarou os olhos muito humanos da criatura, uma inteligência e perspicácia sem par entre todas as criaturas de Gaia.

Ele olhou para ela analiticamente, fitando o petisco na mão dela, e fez um gesto muito humano com a cabeça, como se indagasse: "E aí?"
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Pilar Lobo - O Ovo da Serpente Empty Re: Pilar Lobo - O Ovo da Serpente

Mensagem por Lua Sex Dez 18, 2020 8:46 pm

O curso de extensão universitária de Pilar não era uma área muito comumou procurada, e ela estava familiarizada com as poucas intituições ao redor do globo que pesquisavam aquele tópico. Entre seus colegas de curso, estavam nomes que ela já conhecia da leitura de artigos científicos, e uns poucos outros eram originários de universidades respeitáveis dos EUA e da Europa. Havia dois brasileiros na lista: Benjamim Santos Flores, um professor-assistente da própria USP, e Miriam Mendes, arqueóloga com atuação destacada na Amazônia paraense.


Pilar revisou os artigos científicos dos companheiros de curso e buscou outros mais dos mesmos autores, a fim de ter assunto para conversas futuras. Concentrou-se principalmente nos brasileiros, sobretudo Benjamim Santos Flores, que estava ligado à universidade e, eventualmente, poderia ser útil para garantir a permanência dela ali.

Depois pesquisou as informações sobre as imigrações no Brasil.

O sobrenome de Lorena indicava pouco, já que os descendentes de italianos eram muito comuns. Com Ingrid a coisa mudava de figura. Mesmo sendo parente, Pilar sabia da ligação de sua tribo com os países do leste europeu. A baixa frequência de descendentes de romenos entre a população brasileira, já que a imigração da Romênia tinha sido limitada no tempo e no espaço, sugeria que a presença de uma garota de ascedência romena nas proximidades de um caern em parte controlado pelos senhores das sombras podia ser mais do que coincidência. Somada aos hábitos esquivos de Ingrid e a forma furtiva com que ela entrou no cinema, já havia o suficiente para soar o alerta de perigo de Pilar. Ela estivera brincando com fogo, o mais provável é que Ingrid fosse uma parente, ou até mesmo garou (talvez não devesse descartar isso), colocada no apartamento para espioná-la, ou que Pilar tivesse sido mandada para o apartamento dela com o mesmo fim.

Dali por diante deveria tomar mais cuidado. No fim das contas, até mesmo Lorena poderia a estar espionando. O único garou italiano que Pilar conhecia era justamente um andarilho do asfalto, a tribo predominante em Serpente do Brejo.


Não foi fácil achar algum petisco remanescente, mas Pilar revirou as bandejas do bar, ignorando o olhar de estranhamento dos outros jovens que bebiam ali perto, e por fim ela encontrou uns pedaços de pão de alho.

Ao se aproximar do cachorro, o olhar treinado de Pilar analisou o grande animal preto, e logo viu através do disfarce: não era um cão, mas um lobo. Se ainda houvesse dúvidas, elas acabaram quando ela encarou os olhos muito humanos da criatura, uma inteligência e perspicácia sem par entre todas as criaturas de Gaia.

Ele olhou para ela analiticamente, fitando o petisco na mão dela, e fez um gesto muito humano com a cabeça, como se indagasse: "E aí?"


O coração de Pilar deu um salto. De repente, ela se sentiu como um cão que persegue uma moto e não sabe o que fazer quando ela para. Ali estava um garou lupino. Talvez até mesmo um dos garras vermelhas da seita. Pilar queria ardentemente estabelecer contanto com ele, mas na quadra também estavam Ingrid e Lorena, talvez já sabendo que ela abordava um garou. Além disso, ela não era muito boa em expressão não verbal e os garras não costumavam ser os garous mais cordatos. Ainda assim, arriscou:

— Você é uma criatura extraordinária... — sussurrou em um tom carinhoso, como quem fala com um cachorro adorável, mas olhando-o nos olhos, na esperança de que ele também percebesse que ela era mais do que humana — Venha... vamos ser amigos...

Estendeu o pedaço de pão para disfarçar, mesmo se sentindo ridícula.

Sem mover a cabeça, Pilar fez um rápido movimento de olhos na direção em que Ingrid deveria estar, tentando indicar ao lupino que ela estava consciente da presença da parente/garou e que isso era inconveniente.

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