Klauss Krugger - Uma Matilha Difícil

— Eu não queria deixar a górgona para trás — contou Ícaro com pesar nos olhos — Mas Vicente me mostrou que nós não íamos conseguir fugir comigo nadando só com um braço, Ben ferido e ainda carregando uma gaiola. A górgona ia morrer afogada. Então eu abri a gaiola e soltei ela, orando a Gaia para que achasse uma saída. Só que a górgona voou direto para o meio do portal, que explodiu! O rio virou um turbilhão e nós afundamos, giramos dentro d´água, sem saber se íamos para cima ou para baixo. Eu sem querer passei a hominídeo. No fim, de algum jeito conseguimos chegar à superfície, mas a água já quase encostava no teto da caverna. O Ben estava em lupino, ninguém entendia porque. A água, então, chegou no teto e tivemos que prender a respiração. Achei que ia morrer, mas no fim a correnteza nos levou para fora e pudemos respirar. Já era noite. Saímos, mas não vimos o Ben. Daí o Vicente pulou na água e voltou com ele, desmaiado em lupino. De novo, não entendemos nada. Fizemos massagem no peito e assopramos na boca dele, sem nem saber como fazer, mas deu certo porque ele cuspiu água e acordou. Então nós ficamos lá, na margem do rio, com frio, com fome, sem celular e sem saber como voltar para o caern. Também sem vontade de procurar ajuda humana e ter que explicar o que era o Ben, porque ele não conseguia sair de lupino. Eu também estava preso em hominídeo, mas nessa hora não percebi. De repente a gente ouviu um barulho de asas e, adivinha, Klauss! Era a górgona! Parecia brilhante, energizada.
— Você entende o que aconteceu? — perguntou Ícaro — A górgona esteve no meio do combate entre as forças da Wyld e da Wyrm, ela sobreviveu à explosão de tudo aquilo! Entende o quanto ela é poderosa? Eu sou só um cliath e nem posso falar disso com os outros theurges, mas o que eu acho que foi a górgona que provocou a explosão, como uma fagulha, sabe, desequilibrando o jogo para o lado da Wyld e criando o Limiar. Talvez não seja isso, mas de qualquer jeito ela tem muito poder. Por isso a gente não pode contar para os anciões, senão eles vão tirar ela da gente. Provavelmente destruí-la. Ninguém pode saber. Você tem que honrar sua palavra de não contar para ninguém, ouviu?.

— Para o bem dela, Klauss, é melhor que todos achem que é só um pet— disse Vicente.

— Só que para a gente, ela é um membro da matilha — disse Ícaro — Eu me comunico com ela, é um ser que sente. Ela me perdoou por ter abandonado ela na caverna. Caraca, aquele foi o pior momento da minha vida.

— Agora você sabe TUDO sobre a gente — disse Vicente — Vai cumprir sua palavra de honra, né Klauss? Não pode contar para ninguém sobre a explosão, sobre o poder da górgona e nem que ela pôs ovos. E também tem que nos contar o que está acontecendo aqui.  Tem a ver com a gente? É culpa nossa?

*Confirma o interesse dos garotos e fala em tom desafiador.*

-- Vocês foram citados sim, querem descobrir como? Vamos pegar uma camionete e vamos pra cidade. Vocês já foram na Pedra dos Monges? Se chegarmos nela sem incidentes conto a vocês lá em cima

Quando foram se sentar para o almoço, Klauss encontrou com Khamaseen, a quem não via desde uns meses atrás, quando estiveram na seita Penedo dos Três Reinos para uma oficina de fetiches que teve que ser adiada por questões internas da seita.

Khamaseen o saudou e, depois uns minutos de conversa, manifestou o desejo de ir com eles conhecer a Pedra dos Monjes. A reação dos garotos foi de indiferença, de modo que estava nas mãos de Klauss concordar ou deixar para outro momento o passeio de Kham.

*Primeiro volta-se para os garotos.*

-- É bom darem um pulo na cozinha e preparem sanduíches para nós 4 e caprichem nos sandubas, que voltaremos apenas pela manhã. Acho que uns 3 ou 4 para cada será suficientes. Depende da fome de vocês.

*No caminho para a cidade.*

-- E aí galera quem já acampou?

-- Vamos fazer a caminhada até a pedra ainda hoje, independente da hora que chegarmos, vamos acampar e amanhã bem cedo vamos encontrar uma rota para o rapel, e em seguida voltamos para o caern, agora na loja de esportes eu vou pegar o equipamento do rapel e o minimo para o conforto para a noite. Por isso pedi que pegassem os sandubas e água.

— Podemos ir também na cachoeira? — perguntou Ícaro, com uma animação quase infantil.

Dmitri deu um sorriso de deboche, que foi notado por Ícaro. O jovem theurge murchou feito uma planta, de constrangimento.

Depois de todos terminarem o almoço, os meninos recolheram os pratos e foram para a cozinha, arrumar tudo e preparar os sanduíches.

Mais tarde, Klauss notou que Kamau tinha visto a mensagem e dado um "ok" como resposta.

Vicente negou com a cabeça.

— Minha mãe não gostava dessas coisas. A gente sempre ficava em hotéis e pousadas — disse.

— Eu, sim — falou Ícaro — Meus pais gostam de pegar a estrada para ir à praia e algumas vezes acampamos. Meu pai estava me ensinando a mergulhar.

A simples lembrança dos passeios melhorou seu ânimo.

— Não, a gente não viajava muito — disse Benjamim — Apesar de sermos dos peregrinos silenciosos.

Pelo retrovisor, Klauss viu que os olhos de Ben se perderam em algum ponto distante, tristes. Intuiu que a vida não tinha sido fácil para a família monoparental de Benjamim.

Chegaram ao centro de Pedra Lisa. Os tempos eram difícies, a cidade turística se achava vazia e vários estabelecimentos tinham as portas fechadas *, mas eles encontraram uma grande loja de esportes aberta, se chamava Império dos Esportes. Era bem sortida e Klauss encontrou tudo o que precisava. Os meninos andavam dispersos, para cá e para lá, olhando as coisas, rindo e provando os produtos de exposição.

Spoiler:

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Depois disso, Klauss tomou a estrada, pois já estava ficando tarde para voltar ao caern e sair de novo. Um tempo depois, achou o local indicado, deixou a camioneta em um pequeno estacionamento pago, na infraestrutura ao redor da cachoeira mencionada, e entrou na trilha que levava ao morro. Foi uma boa caminhada. Kamau tinha indicado um local afastado, de beleza selvagem e difícil acesso, realmente mais adequado a lobisomens do que a seres humanos.

Já anoitecia quando viram a rocha que correspondia à descrição da Pedra dos Monjes. Tinha uns trinta metros e representava um desafio de nível médio para o rapel.

*Para o almoço faz questão de sentar na frente de Dmitri e passa o tempo encarando o galiard.*

*Percebendo que Benjamin não ficou a vontade muda rapidamente de assunto.*

-- Que Legal Icaro, Virna mergulha bem pra caramba, não é atoa que é oceanógrafa, eu me viro bem mas ela da show. E falando em esportes radicais... Rapel alguém ja fez?

-- Vou ensinar a vocês uma técnica chamada de rapel guiada, sempre e bom conhecermos a técnica tanto para resgate como para uma invasão, nunca vamos saber se irão precisar usar, eu prefiro saber e não precisar do que precisar e não saber.

*Antes de começar a caminhada deixa os garotos curtirem a cachoeira mas alerta que se molharem as roupas vão permanecer molhadas, ninguém está levando roupas extras e a caminhada pode ser longa e isso tornaria ela ainda mais cansativa

Já anoitecia quando viram a rocha que correspondia à descrição da Pedra dos Monjes. Tinha uns trinta metros e representava um desafio de nível médio para o rapel.

-- Ótimo galera, vamos dividir as tarefas agora, vou montar a barraca pra vocês, preciso que encontrem lenha e gravetos e algumas pedras para circularmos a fogueira, não vão muito longe.

*Enquanto eles saem para procurar as coisas Klauss limpa o local do acampamento e monta a barraca e deixa tudo pronto para acenderem a fogueira.*

— A gente pensou em escalar a Pedra Ferida em crinos, mas achou melhor não arriscar, nem o Véu, nem a se machucar — disse Vicente.

— Subestimou a gente, Caçador de Ovos! — disse Ben, tirando uma sunga da  mochila e atirando para Klauss — Essa é do Dmitri, ninguém tinha uma sobrando.

— Faz um Ritual de Purificação antes de pôr sua b*nda plebéia nesse trrraje nobrrrrr — brincou Ícaro.

Ícaro causou um certo impacto quando chegou às pedras. Tinha uma aura que deixava entrever sua natureza sobrenatural. A pele suave e quase brilhante de tão branca, os cabelos loiros compridos e os olhos azuis lhe davam uma aparência angelical. Vestia um top preto de ginástica, que mesmo discreto, não escondia completamente duas pequenas saliências em seu peito. A parte de baixo era um biquini grande e escuro, mas que não ocultava que ele também era um garoto.

A maior parte das pessoas dava uma olhada rápida de curiosidade, mas Klauss notou que dois adultos o miravam com lascívia. Ícaro também percebeu isso. Apesar do que tinha dito antes sobre a tribo, o jovem senhor das sombras passou a avaliar o efeito que causava com uma expressão fria e analítica, parecida com a de Liam quando contou para Dmitri que Klauss o tinha chamado de idiota.

Klauss viu Vicente e Ben de boca aberta.

— FDP de presa de prata sortudo — resmungou Ben.

— É a Giulia, a ex do Dmitri — sussurrou Vicente para Klauss.

— Vou lá falar com ela! — disse Benjamim, pondo-se em marcha.

— Pera aí! Aí, não, né! — disse Vicente — Quer todas as parentes pra você? Não falou que ia roubar a Nat?

— Vai você então.

Os dois garotos riram, mas enquanto o ahroun titubeou uns segundos, Benjamim saiu em direção à ela.

Trocaram umas palavras. A menina passava a mão pelos cabelos, muito consciente da própria beleza e da imaturidade de Benjamim. Ainda assim, ele voltou com ar triunfante. Klauss percebeu que Ícaro tinha feito uma foto com seu celular.

Assim que matilha viu a Pedra, como que ativou o "modo missão". As brincadeiras desapareceram e puseram muito atenção na tarefa simples que Klauss deu para eles.

*Klauss observa a reação dos garotos após algum tempo e dispara.*

-- Ela é parente?

*Calmamente limpa o espaço para o acampamento com a faca de acampamento e começa a arrumar a barraca esperando que os garotos voltem para fazer os processos do acampamento juntamente com eles.*

— É — disse Vicente, sem tirar os olhos de Giulia, que fazia poses sobre uma pedra — Antes não era, mas o Dmitri queria casar com ela, então depois do nosso Ritual de Passagem a matilha dele foi procurar um ancião filho de Gaia que soubesse o ritual do Véu Partido. Cumpriram uma demanda pra ele. Então ele fez o ritual para a Giulia e mais duas humanas, a Dalila e a Harumi. Só que uns meses depois o Dmitri trocou a Giulia pela Natienka. Então a Giula está livre, né?... Eu sei que monitoram ela, mas ela não vai na seita como as outras parentes.

— A Harumi morreu — disse Ben, em voz baixa — O Julián apagou ela porque ela e a namorada policial estavam investigando a seita. Por isso ele e Anton-rhya brigaram, como você tá sabendo. Anton achou muito cruel como Julián fez, porque estava perto do Natal e acabou com a infância dos filhos delas, porque Julián armou tudo para parecer que a policial matou a Harumi e se suicidou. Imagina você crescer pensando que sua mãe fez isso? Mas eu acho que foi genial porque ninguém nunca vai saber. E elas estavam pondo o caern em risco, então não tinha outro jeito.

— Parece que transformar humanos em parentes não dá muito certo — concluiu Vicente com amargura.

— Mas a Dalila é legal. Ela também é gata, só que já tem dezoito e nem olha pra gente — riu Ben.

Os meninos voltaram com lenha, gravetos e pedras adequados ao acampamento. Tinham caprichado. Klauss viu em seus olhos que estavam gostando de tudo aquilo.

*Apos acender a fogueira e montar a barraca agora junto aos garotos senta-se próximo a fogueira.*

-- Com quem está os sanduíches.

*Após entregarem o sanduíche abre a caixa onde trazia a água e pega 4 latas de cerveja, distribui entre os garotos.*

-- Saúde...

*Presta atenção neles por alguns segundos, enquanto mastiga, dando a deixa para que eles falem um pouco*

— Ainda não acho certo matar inocentes — disse Ícaro de repente — tomara que nunca me peçam, vou dizer não, que se f*da.

— Pior eu que já matei... — disse Vicente, dando um grande gole na cerveja.

Klauss pôde sentir amargura, raiva e tristeza em sua expresão.

— Mas aí você não teve culpa — disse Ícaro muito sério — pode acontecer com qualquer um de nós.

— Com você, não, Cacá — disse Ben — você não tem fúria pra isso, criatura.

Os três riram, ainda que Ícaro e Vicente um pouco menos.

— Sorte minha — deu de ombro Ícaro — Resolvo as coisas com a cabeça.

— Naaaaa — brincaram os demais.

— Tem mais? — perguntou Vicente a Klauss — mostrando a latinha vazia.

Qual é sua teoria sobre o Dmitri, Caçador? — perguntou Ícaro.

— Que ele tem raça pura e olho azul por isso vai pegar todas as parentes, enquanto a gente vai morrer sozinho igual os impuros — disse Vicente.

— Fale por você! — disse Ben.

Ícaro fez uma carinha malandra que significava o mesmo.

— O Klauss tem a Virna — disse Ben, olhando atentamente para Klauss, como testando o caminho — Ela é bonita...

— Como é que você conseguiu? — perguntou Vicente.

— Sendo gringo, loiro e tendo um caminhão de raça pura, estúpido! — riu Ben.

— Olha essa língua... — respondeu o ahroun. O tom era de brincadeira, mas nem tanto.

— A Dalila é neta de uma parente fúria negra — cortou Ícaro, percebendo a tensão — Mas agora ela é parente dos filhos de Gaia, por causa do ritual. Já está na faculdade, zero chance para a gente. O resto é tudo muito mais velha ou criançada. Só se for do rebanho de outra seita, mas a gente só vai nelas pra cumprir missão...

— A Virna tem irmãs da nossa idade? — perguntou Ben.

A matilha explodiu em gargalhadas.

— Mas e a teoria sobre o Dmitri? — insistiu Ícaro.

-- Conheci ela num evento em Fonte Fria, a intensão era justamente juntar garou com parentes...

*Klauss abria sua ultima lata enquanto distribui a ultima para os garotos.*

-- Vamos lá, observei que ele não demonstrou muito afeto pela Natienka durante a refeição, não que ele seja um poço de carisma...  mas pelo que pude ver ele e Anton estão brigados e se Dmitri está com ela para tentar agradar a Anton... vocês comentaram que ele sai toda noite e se não for para ir atras de Natienka e se ele for atrás dessa Giulia?

— Suspenderam esses festivais. — disse Vicente, recolhendo os envoltórios dos sanduíches e as latas vazias e guardando-os na mochila.

— É o que eu disse — falou Vicente, tomando um grande gole — Ele vai pegar todas as parentes e nós vamos continuar sozinhos.

*Caminha lentamente até que seu rosto fique visível na fogueira novamente.*

-- Para Kamau-rya o primeiro teste de vocês é uma escalada, para mim é uma luta, levantem-se. a regra é simples, todos nós em hominídeo, não usaremos fúria nem dons, 3 rounds, a intenção é pura e simplesmente derrubar. Se vocês me derrubarem vocês ganham o round, se eu derrubar dois de vocês eu ganho o round. Preparem-se!

— Mas a minha forma natural é glabro — disse Benjamim.

off:

— Posso virar um glabro passável

— Eu vou fazer na minha forma racial igual os outros, Caçador de Ovos — peitou Ben.

— Eu acho justo — disse Vicente.

*Klauss aplaude.*

-- Parabéns, não entraram nas minhas provocações e já começaram a agir como matilha e estão mostrando isso cada vez mais, essa é função da matilha um apoiar ao outro, podem todos ir a glabro.

Klauss espera até todos se posicionarem e também muda para Glabro. *

-- Como lhes disse regras iguais.

*Klauss ao perceber toda a situação volta a hominideo enquanto caminha novamente para a fogueira, pega um pedaço de madeira e joga no fogo e se senta.*

-- Sentem-se...

*Pega um dos galões de água e da alguns goles e passa o galão aos garotos.*

-- Tão importante quanto estar prontos para uma batalha é a saber a hora que ela deve ser evitada

-- Sei que a entropia causada Wild afetou vocês de uma maneira... peculiar... isso já havia acontecido antes Icaro? Digo dessa maneira?

-- Parece que a frustração desencadeia as consequências do Limiar, como lhe disse não sou theurge e muitas vezes também não entendo muito do mundo espiritual. Ben você já teve dificuldade alguma vez de ir para glabro?

-- Cente quando você sente que o Filodox dentro de você quer mandar mais que o ahroun?

-- Agora mais do que tudo preciso da sinceridade de vocês, para podermos saber que rumo vamos tomar, já falo no coletivo, estou com vocês até o fim

— Nunca aconteceu dessa maneira — responde Ícaro laconicamente.

— Glabro é minha forma racial — responde, seguindo o jogo de Ícaro.

Vicente não aguenta, dá um riso sarcástico, balançando a cabeça, e encara Klauss.

— Mano, como é que eu vou saber isso?

Vicente se levanta.

— Vamos dormir. Amanhã você ensina o tal rapel guiado para a gente poder ir embora.

Ao entrarem na barraca, Klauss escuta Ben dizer para Ícaro.

— Que se f*da, Kaká, você é bala, vai aprender os dons e os rituais todos. Vai matar os dançarinos assim... tá! tá!... só com os zóio!"